Cobertura: Thuë pihi kuuwi – Uma Mulher Pensando (dir. Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami)

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

A força é ancestral e isso ninguém rouba

26ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Mostra Cinema Mutirão 

 

A estreia do curta Thuë pihi kuuwi – Uma Mulher Pensando (RR), com direção de Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, deu-se na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o curta é o primeiro filme feito por mulheres Yanomami. Nele temos uma personagem quase onisciente que narra suas observações relativas ao processo de feitura do “yãkoana”. 

Neste registro documental há a passagem do tempo, uma contemplação da natureza dos movimentos e de quem o executa (um xamã), o instante é o agora, o presente. Esses gestos hão de ser conhecidos e reconhecidos por quem o narra, mas aquele momento é como se fosse o único, ou o primeiro a ser posto daquele modo observativo. 

Esta jovem mulher reflete a respeito das forças da natureza e do poder das plantas de sua região. O seu  Xamã é o ser que faz o preparo do pó de forma manual – o rapé é um ritual que permite aos xamãs introduzirem-se no mundo espiritual –, macerar por um longo tempo, repetir o procedimento, o processo de repetição é visto em outros filmes também realizados por mulheres, dentre eles o longa-metragem  Jeanne Dielman (1975), da belga Chantal Akerman, mas ao contrário desse, as tarefas executadas não são maçantes,  há um estado poético da análise do movimento contínuo na metodologia de produção do yãkoana – o pó usado na recepção das entidades.

Assim como vemos em India Song (1975), de Marguerite Duras, há um prolongar-se sobre a imagem, um encantamento sobre o que ali se passa, sobre as imagens em torno daquele lugar, daquela comunidade na qual a jovem personagem está inserida, o território Yanomami em Watorik?. Não há uma regra a ser seguida, apenas sentir o que vemos em cena, sermos transportadas pela narradora. 

O filme é uma produção da produtora Aruac Filmes, cuja dedicação é voltada a trabalhos autorais no segmento audiovisual com temas relacionados à Amazônia brasileira, e coprodução da Hutukara Associação Yanomami.

Temos também um chamado para preservação do território Yanomami e de seu povo, que atualmente enfrenta uma crise sanitária e humanitária com o garimpo ilegal, provocando um genocídio dos povos originários.  

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