Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.
Mostra Olhos Livres | 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Composta por seis longas metragens, a Mostra Olhos Livres, com curadoria de Francis Vogner dos Reis e Lila Foster, iniciou no domingo (23/01). Os filmes ficarão disponíveis online, com duração de 24h, no site https://mostratiradentes.com.br/filmes/mostra-olhos-livres/. Vale a pena se programar para não perder nenhum.
Os longas são: Germino Pétalas no Asfalto, de Coraci Ruiz e Julio Matos (SP), O Dia da Posse, de Allan Ribeiro (RJ), Manguebit, de Jura Capela (PE, SP e RJ), Você nos Queima, de Caetano Gotardo (SP), Avá – Até que os Ventos Aterrem, de Camila Mota (SP) e Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira (ES).
Ruptura de Corpos – Germino Pétalas no Asfalto, de Coraci Ruiz e Julio Matos (SP)
Jack Celeste, menino trans em estado de transformação, do corpo, da mente, da idade, e da sociedade. Os diretores do filme buscaram mostrar durante cinco anos essas transformações passadas por ele.
Jack não está sozinho, ao iniciar sua jornada de transição, mesmo afastando-se de familiares que o incompreendem, conta com uma rede de pessoas para contar, se apoiar e ser apoiado. Em um dos momentos do filme vemos ele aplicando hormônio, precisa ter paciência para a retirada deste da ampola, precisa ter paciência durante todo o processo que é lento e em alguns momentos pode ser dolorido. A dor precisa ser parte dessa desconstrução, o processo de se reconstruir como um outro ser que necessita de visibilidade dentro de uma sociedade machista e patriarcal precisa ser de dor?
Mas ele tem paciência e consciência do que quer e tem ao seu lado Noah, que também passa por esse processo, bem como Fauno. O longa nos mostra de forma poética os desejos de mudanças desses jovens que vivenciam o desastre configurado a partir das Eleições de 2018, em meio ao empoderamento de um presidente machista, homofóbico, transfóbico, somado com a pandemia de COVID-19. Acompanhamos e vibramos com Jack, um jovem, em sua mudança de nome e gênero, ao ser reconhecido socialmente.
A direção de Coraci Ruiz e Júlio Matos possibilita em alguns momentos uma determinada leveza na obra, um desses momentos é quando Jack e Noah se preparam para irem à Parada LGBT, cores, brilho, encontros, abraços e conversas descontraídas, tudo isso antes da quarentena. A arte está presente tanto nas inquietações postas em forma de grafite e pichações em muros, quanto nas cenas em que a travesti Helena Agalenéa aparece com toda a sua rica e exuberante performance. Helena questiona os padrões impostos, as estruturas que sustentam uma sociedade hipócrita, marcada pelo falocentrismo, mas também questiona o fato de não se sentir bem em círculos do Sagrado Feminino, o útero sagrado que não a pertence, ela está na encruzilhada, ser e não ser, estar e não estar.
Em Germino Pétalas no Asfalto as composições que formam a trilha sonora é um banquete à parte, com músicas de Potyguara Bardo, Ventura Profana, Alice Caymmi, Lan Lan, Kaique Teodoro e Malka Julieta. O filme além de sua forte temática também conta com singelos Efeitos Visuais e Motion Graphics. Vale lembrar que o filme é uma produção de Campinas, interior de São Paulo. Coraci Ruiz também é diretora do curta “Pluma Forte” (2019).
Acompanhe a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes on-line pelo site.
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