Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.
26ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Mostra Cinema Mutirão – Médias-metragens
Fazem parte da Mostra Cinema Mutirão filmes de médias-metragens, como Partida de Vôlei à Sombra do Vulcão (MG) no qual há a união do teatro com audiovisual. É nessa junção que o média ficcional aborda sobre desejos, corpos ardentes com uma profusão de imagens. Uma mulher cujo anseio é o de sair de onde se encontra para voltar às suas origens, ao seu país, mas que se sente aprisionada. Esta personagem não encontra quem possa compreendê-la, ela precisa falar em outro idioma para ser aceita e entendida. E nesse processo de não aceitação ela entra em estado de erupção. Uma criatura geradora de natureza e volúpia mostra sua força. A dança se faz presente, o palco, ora set de gravação, ora teatro também se põe, como o desejo daquela de pisar em sua terra natal. A dramaturgia é de Silvia Gomez, com as canções “Grávida” e “Lança Perfume”, interpretadas por Lica del Picchia e O Grivo, a produção é do Grupo Galpão.
Entre a Colônia e as Estrelas, realizado por Lorran Dias (RJ) é uma ficção perpassada pela fantasia. A personagem Estelar é uma técnica em enfermagem que trabalha em um hospital psiquiátrico, na Colônia Juliano Moreira, ela questiona o que se desvia do “normal”, seja a sexualidade, gênero, ou escolha profissional. Mora em uma comunidade, que há falta de água recorrente, em um dado momento isso se intensifica, coisas estranhas acontecem na Colônia, pessoas somem ao ingerir a água daquele lugar. A fantasia se instala, lembranças do passado ressurgem, personagens atravessam o imaginário de Estelar, que sai em busca de seu irmão Kalil, um estudante de música. O filme aborda sobre a perseguição sofrida dentro da instituição àquelas pessoas que pensam diferente, cujo pensamento político é de equilíbrio social e luta por igualdade.
Entre o real e o ficcional o coração pulsa, a vida volta. Vale destacar que foi na instituição Colônia Juliano Moreira, que a poeta Stella do Patrocínio permaneceu internada como doente mental durante 26 anos, e foi neste lugar que descobriram por meio de consultas psicológicas e oficinas criativas os seus poemas descritos por ela como “falatórios”.
Um transe dá lugar a uma frenética multiplicidade de imagens, do vazio ao composto pelo média Caixa Preta, com direção de Saskia e Bernardo Oliveira (RJ/SP) se vela ao espectador. Um experimental com imagens desconfiguradas em altas doses de pixels, nos arremete ao consumismo desregrado, a sociedade formada por produtos Made in China que toma e torna-se o objeto de consumo.
Saskia e Bernardo Oliveira lançam uma lupa para a sociedade memetizada, utilizando-se do encontro da arte com a tecnologia, esse olhar sobre nós e sobre o outro, dos desejos, do que nos aprisiona, da religião e religiosidade, dos ritos e rituais, da dança, da música presente neste média-metragem e das personagens negras que nos são apresentadas. Tal experimento provoca estranhamento ao tempo que nos envolve numa teia imaginária de curiosidade sobre como se desencadeará seu fim, sendo este inebriante, e hipnótico.
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