Cobertura: Mostra Foco | Série 2

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

Os filmes da Mostra Foco | Série 2 da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes 2021, ficam disponíveis no site por 48h: de 22h do dia 26/1 às 22h do dia 28/1. Abordando Distopias cotidianas e figurações de um pós-mundo. Curadoria de Camila Vieira, Felipe André Silva, Tatiana Carvalho Costa.

Ratoeira

Em uma oficina de eletrônicos, o técnico MacGyver (Neném Maravilha), convive com objetos de diversos modelos, épocas e utilidades, seu trabalho consiste em reparar o que o tempo deteriorou. Ali naquele ambiente entre aparelhos de DVDs, videocassetes e HDs externos, o protagonista salva o que pode, restitui integridade aos objetos que ganham nova vida.

O Curta com direção de Carlos Adelino, mostra um ambiente de descarte, em que a tecnologia perde seu uso e funcionalidade. Em Ratoeira temos a isca. Seria o fator de geração de uma necessidade de consumo a isca para a sociedade? Somos nós os ratos famintos de novidades tecnológicas? Essa fome que não cessa, fome crescente em demasia.

O homem e o tempo, MacGyver vive no recinto com todos os artefatos que em algum momento começam a ter vida própria, interagem naquele cenário com amontoados diversos, quebrados ou não.

De costas pro rio

O filme de Felipe Aufiero nos mostra o protagonista Pietro, interpretado por Victor Kaleb, que volta a sua terra natal em busca de respostas sobre as mudanças ocasionadas no processo de crescimento e desenvolvimento urbano de Manaus. O curta inicia com um indígena cantando em Italiano, no decorrer do filme ouvimos histórias sobre os espíritos da floresta, e acerca da selva de pedra que é Manaus, histórias de imigrantes.

Pietro vê em sua família a perda do contato com a natureza, com os seres encantados. A cidade que cresceu de costas para o rio, de costas para suas origens, que renega, mas a natureza cobra o peso do esquecimento, e de nada adianta passar por cima dela com concreto e o tempo. O velho e o novo ali se encontram, a morte e a vida da memória. Pietro se vê como um desses guardiões do tempo, que busca na sua cidade e nos seus cidadãos a memória há pouco perdida ou ocultada por uma camada fina de esquecimento.

Eu te amo, Bressan

Do encanto ao desencanto de cada relacionamento, amor romântico, ternura e distanciamento, o curta de Gabriel Borges faz esse alinhamento de sentimentos envoltos em imagens ora bucólicas, ora urbanas, tons leves e pastéis para sua coloração.

Na tela vemos o uso de artifícios com imagens que retrocedem, o que foi dito se desfaz, o “eu não te amo mais” é desconstruído, a dor é desfeita e dá lugar ao prazer. O personagem  Bressan (Pedro Ramires) remonta sua história de amor, um filme sobre o amor entre jovens, é isso que ele quer montar após o término de seu namoro.  A fuga do desamor é uma constante, é algo que cega.

4 Bilhões de Infinitos

Em um local na zona rural vivem duas crianças irmãs e uma mãe, em sua casa a energia elétrica se faz ausente. Velas ambientam aquele espaço de penúria, sem TV e sem celular para passar o tempo, os irmãos falam sobre suas proximidades, sonhos, anseios de uma vida melhor, comemoram e contam histórias assombradas. O irmão pega da escola o projetor na esperança de ter o cinema em sua casa, de assistir algum filme junto à sua irmã. A esperança é mola propulsora para tal ação do garoto. O cinema e sua magia, suas infinitas possibilidades. Nessa infinitude com frio e fogo, pobreza e sonhos, a cultura local com suas danças populares.

O filme é um afago, dirigido por Marco Antonio Pereira, conta com uma sensível e rica direção de arte e fotografia, tendo as crianças protagonistas que nos passam muita leveza em seus diálogos e atuação.

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