Texto: Janderson Felipe. Revisão: Leonardo Amorim e Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.
Mostra Panorama| Sessão 1
A sessão parece apostar no experimentalismo dos seus realizadores, mas principalmente em colocar o corpo presente, seja físico ou virtual, passando por condições que vão de oníricas até a animalidade humana: são filmes que experienciam a condição humana em diversas perspectivas e em diferentes condições de produção.
Levantado do Chão, de Gustavo Jahn e Melissa Dullius
Sonho e realidade são uma coisa só. O homem acorda de mais um sonho e caminha por uma cidade de pedra. O filme parece beber dos cinemas surrealistas das décadas de 40-50, não à toa utiliza o granulado dos 16mm. Parece nos levar para um outro lugar, uma viagem no tempo, nos fazendo ser parte do sonho desse homem e seus desejos: deseja a infância, sonha com uma mulher e seu violão. O corpo está ali como um vagante em trânsito completo na cidade dos sonhos.
Minha bateria está fraca e está ficando tarde, de Rubiane Maia e Tom Nóbrega
O filme parte do sentimento de exílio de dois amigos afetados pela pandemia, e se torna um rastreamento da condição de isolamento e distanciamento. A avalanche de informações sobre o novo coronavírus, a ansiedade para dar conta de todas elas e todo o processo de quarentena virtual, com lives, vídeos e Youtube, a necessidade de conexão humana através de uma tela. A tomada dessas imagens permite a fabulação entre os dois amigos distantes, tendo a possibilidade de viajarem e se encontrarem em um mundo novo.
Ilha do Sol, de Lucas Parente, Rodrigo Lima e Walter Reis
Filme-homenagem à Luz del Fuego, que se utiliza do corpo para produzir uma performance que nos leva à Ilha do Sol. O filme faz da ilha um lugar idílico, onde o ser humano está em completa união com a natureza. Luz, artista conhecida por tamanha liberdade de seu corpo, parece distante, seja pela temporalidade, onde as questões sobre o controle do corpo continuam tão pertinentes, ou seja pela performance apresentada, que se faz de forma caduca. A Ilha do Sol sente falta de Luz del Fuego.
Animais na Pista, de Otto Cabral
Uma situação que revela diversos traços da condição humana, o uso de uma mise-en-scène de fluxo para dar conta de uma miríade de sentimentos que um acidente de trânsito pode trazer. Sua potência está na crença, na disposição dos corpos nesse espaço limite da humanidade, onde a morte, a sobrevivência e o luto se fazem presentes, o ser humano se faz animal presente.
Vagalumes, de Léo Bittencourt
A noite carioca, em pleno Parque do Flamengo, revela os corpos que compõem a fauna e flora urbana. Parece que a noite deve cair para que esses seres habitem esse espaço, num diálogo com o cinema do português João Pedro Rodrigues, que coloca os afetos dentro da natureza, onde a urbanidade é estranha ao humano. Faz crer que o humano é mais humano em natureza, não como besta, mas apenas como um ser que vive e experimenta seus desejos.
Acompanhe a 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes on-line pelo site.
Leave a Reply