Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.
O tempo que separa, também é o tempo que une
26ª Mostra de Cinema de Tiradentes – Mostra Cinema Mutirão
Paola é uma personagem envolta de ar místico, possuidora de uma sabedoria ancestral, é ela quem nos conduz pela trama dirigida pelo cineasta e artista visual Ziel Karapotó (O verbo se fez Carne), seu parente. Temos neste curta documental a indígena transexual, sentada em um barco que serpenteia no Recife, composta de leveza, mas incisiva em suas falas ao longo da película.
Suas vestimentas nos atrai a atenção pela sua composição, unhas pintadas, bijuterias, há um questionamento quanto ao rompimento das estruturas coloniais, e acerca da violência de corpos transexuais e de pessoas indígenas. Segundo o relatório anual da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) que aponta o Brasil com maior número de homicídios de pessoas transexuais e travestis, Pernambuco é o campeão de assassinatos, e o Nordeste é a região brasileira que mais assassina estes corpos.
O curta é repleto de sensorialidade e texturas, enquanto seres espectadores, somos conduzidos ao mercado juntamente com Paola para as compras de ervas utilizadas para benzimento como arruda, folhas de pinhão-roxo, rosas vermelhas, cravos e alecrim, ela macera as folhas com exímia propriedade sobre este conhecimento de sua ancestralidade. A presença de símbolos como o uso da xanduca, o som do mar, a reza e a dança compõem o cenário documental.
Paola e Ziel cresceram no território indígena Karapotó, localizado no município de São Sebastião no interior de Alagoas, o tempo que separa, também é o tempo que une, percorreram trajetórias, vivenciaram e experimentaram situações diversas até o reencontro no Recife.
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