Texto: Jacqueline Costa. Revisão: Leonardo Amaral
Os invisíveis
A história se repete, a retirada de pescadores devido a interesses econômicos é constante, foi ontem na vila dos pescadores no Jaraguá, foi hoje na vila dos pescadores no lago Perucaba. Palavras que refletem o descaso, trazem promessas de um lugar melhor. Mas que lugar seria melhor, se não perto do peixe que sempre pescou?
A perspectiva do plano do pescador remando para o que seria uma despedida, reforça os principais protagonistas, reflete uma tentativa de dar voz a quem não tem, traz à tona palavras que não saem, porque não são vistos, invisíveis? Invisíveis numa vizinhança que para cada parede que levanta, abre um buraco na rede. Para cada som de obra, o pescador chega na margem. Cada barraco que guarda petrechos de pesca, tem nome, número e endereço, e cada remendo na rede é resistência.
A constância das cores com dias nublados que impulsionam as jangadas na margem reflete o descaso, a falta de necessidades básicas. Estar no limite é ter a especulação imobiliária como vizinha, é para cada lote vendido ter que abrir o jornal procurando casas para alugar, é ser despejado porque o outro quis e lembrar que “a tática é aproveitar”. Como viver a margem se nem sabe pra onde vai? Quando os dias deixam de ser nublados há uma esperança, de que há sempre outro dia, que no alaranjado do pôr do sol o pescador leva consigo o sustento, a tradição. É lembrar que quem está na margem não precisa ser invisível.
Análise Crítica do curta À margem da mostra especial da 11ª edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoano
Leave a Reply