Crítica: À Sombra do Vírus (dir. Fabinho Oliveira)

Texto: Cleber Pereira. Revisão: Leonardo Amaral

Paranoia cotidiana

O ano de 2020 terá como uma de suas marcas indeléveis a produção artística, em todas as suas expressões, inspirada na pandemia do novo coronavírus que instituiu mudanças nos hábitos mais cotidianos. À Sombra do Vírus (Fabinho Oliveira, 2020) não foge à essa afirmação.

O curta tem um roteiro linear que é bem executado tecnicamente. Conta a história de uma noite comum – para um contexto de isolamento social – na vida de um jovem que já estabeleceu sua rotina de quarentena muito familiar a qualquer espectador: sapatos na entrada ao chegar em casa, local para máscara possivelmente contaminada, álcool em gel em alguns cômodos e a higienização de toda e qualquer coisa que vier da rua.

A identificação com o personagem é imediata porque todos que viveram e vivem os cuidados diários para não serem infectados com a COVID-19, já tiveram e têm os mesmos hábitos e medos. A dúvida sobre ter ou não passado álcool nas mãos, sobre ter ou não guardado a máscara usada e, pior, o desespero por ter esquecido a proteção ao atender alguém na porta de casa. A pandemia do vírus trouxe a pandemia da paranoia, do interminável checklist.

Dito tudo isto, o filme sofre com a falta de imprevisibilidade – elemento fundamental do suspense. A escolha do gênero, aliás, é um ponto a se elogiar entre tantas obras documentais com argumento baseado nos novos costumes impostos pela quarentena. No entanto, a linearidade do roteiro e a identificação do público com a história não deixam espaço para surpresa. A máscara que persegue e assombra o protagonista anuncia, mais de uma vez, ser a opressão e o mal, antes mesmo de atacá-lo e sufocá-lo, personificando suas angústias.

À Sombra do Vírus é um filme direto, às vezes monocórdico, fechado hermeticamente numa caixa que não revela novidade alguma e apenas isso. A virada na história não causa o susto porque o que é ficcional nela reflete o medo real, porém, com apatia. É uma sensação de “é isso”, “eu já senti isso”. É só isso.

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