Crítica: À Sombra do Vírus (dir. Fabinho Oliveira)

Texto: Paula Araújo. Revisão: Leonardo Amaral

Não há descanso

O receio de ser infectado, infectar outras pessoas, desenvolver sintomas graves, somado ao bombardeio de informações e das incômodas obrigações preventivas fizeram da pandemia um suspense constante, onde o medo toma conta 24 horas. Sem hipérboles. A maior assombração é algo invisível a olho nu, real e, por vezes, letal, que pode estar em qualquer lugar.

À Sombra do Vírus (2020), de Fabinho Oliveira, é construído nesse cenário pandêmico, num roteiro que mescla elementos já conhecidos do suspense, tipo ambiente com pouca iluminação, queda de energia elétrica repentina, imagens desfocadas e mais duradouras, sustos e uma perseguição feita por objeto inanimado, representado, no curta, pela máscara de tecido.

A vilanização de um objeto como algo que persegue pode parecer um clichê, mas, no filme de Fabinho Oliveira, ela ganha uma outra abordagem: a máscara, sempre acompanhada de uma música de fundo assustadora, não vira um objeto com vida própria, mas persegue como um lembrete, e ela é. A máscara é uma obrigação para se proteger contra o vírus, é uma presença diária constante, incômoda e sufocante, tal qual a balaclava do sonho do protagonista.

A narrativa foge do comum quando se utiliza da abordagem de filmes de suspense tradicionais com um assunto real. O drama vivido pelo protagonista do filme é o mesmo vivido por milhares de pessoas ao redor do mundo com o medo da letalidade da doença. O medo que é ampliado e reverbera em todas as ações do dia a dia, que mexe até com o inconsciente e se torna obstáculo durante o sono, o medo do desleixo com as precauções que insistem em ser hábitos maçantes, inclusive dentro da própria casa. Não há descanso.

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