Texto: Matheus Costa. Revisão: Leonardo Amaral
Esta obra não é uma ficção.
O curta-metragem Cajá dos Negros (2020) é extremamente necessário no contexto político que estamos vivendo. O documentário é marcado pela questão latifundiária e o seu desdobramento histórico em uma comunidade de descendentes quilombolas nas proximidades da cidade de Batalha, no sertão do estado de Alagoas.
As entrevistas que constituem o documentário são de moradores que relatam os problemas que estão presentes na comunidade. As dificuldades relatadas são derivadas da questão latifundiária e da distribuição de renda, que fazem com que os moradores busquem oportunidades de emprego em outros locais, poucos têm muito, e muitos têm pouco. Situação que acarreta em uma diáspora dos moradores do quilombo. Essa migração causa e causou perda da identidade cultural, religiosa, social, geográfica e ancestral na comunidade, de uma família que saiu daqui.
O diretor Israel Oliveira utilizou de planos longos, com poucos cortes, para relatar e registrar a história de um povo que sofre e sofreu com a consequência do coronelismo, com a política fundiária e com as dificuldades que tentam silenciar a voz de uma população. A juventude tem um papel fundamental no filme, pois são o futuro, um futuro que sofre as consequências de um passado de abandono e descaso político e social.
O racismo institucional nos relembra todos os dias sobre as adversidades do que é ser negro no Brasil, último país a abolir a escravidão. Este que há séculos nega direitos constitucionais a população descendente de africanos e indígenas, como direito à terra e a uma vida digna, que usa de várias formas para nos silenciar, mas eu não tenho medo de falar não, pai.
filme muito necessário esse. Israel e a população de Cajá dos Negros faz um trabalho-denúncia incrível aqui, espero muito que ela ecoe por todo o estado.