Crítica: Chau do Pife (Dir. Celso Brandão)

Texto: Felipe Duarte. Revisão: Chico Torres.

O COLOSSO E O PÍFANO

A obra é a extensão do artista. Por mais que possa ser ressignificada de maneira diferente por cada um que a encontre, um trabalho artístico invariavelmente faz permear a história e a identidade de seu criador, nos mais diversos contextos. E foi graças a uma bela ilustração desse fenômeno que Celso Brandão arrebatou o Prêmio de Melhor Filme da IX Mostra Sururu, com Chau do Pife.

O filme não busca dimensionar a imensidão de seu protagonista colocando-o em face a um conflito específico, mas singelamente cria um apanhado de sua existência, na voz do próprio José Prudente de Almeida, o Chau, transmitindo os contos de sua origem e da sua relação com o pífano, seu instrumento musical e de independência, que herdou no sangue por parte de pai.

Leia-se “no sangue” de forma quase literal, pois o filme busca apresentar seu personagem como homem e como artista, mas acima de tudo, como música. Apesar da magnética presença de José Prudente ao contar seus causos, os momentos mais preciosos e significativos deste trabalho ocorrem não quando os lábios falam, mas quando sopram no instrumento o som astuto e melódico, que preencheu com gosto os espaços do cinema e provocou os aplausos da audiência por diversas vezes.

Celso Brandão está plenamente ciente da força da música registrada, e cede a ela o espaço que requer. Contrasta-a com vários cenários: feirinhas e estúdios, bares e catedrais. Lugares por onde existiu Chau do Pife, que performa sozinho ou acompanhado por outros ilustres (como Nelson da Rabeca), guiando o passeio do público.

Dessa forma, o diretor cria um verdadeiro documentário-canção, fazendo ressoar o músico para todos que o testemunham, quer o conheçam ou não. E, ao fim, simplesmente permite ao dito músico, em close e sob o céu, que toque mais uma vez. E quando Chau do Pife encerrou a última canção e olhou gigante para o povo que mais uma vez aplaudia na sala escura, ficou claro que se documentou ali o homem, a identidade, a cultura, a tradição, e o talento que faz merecer toda comoção.

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