Texto: Matheus Costa. Revisão: Leonardo Amaral
Como Ficamos da Mesma Altura tem uma estrutura de crônica-conto, ao narrar a viagem e a permanência de Laura e Miguel na cidade de Anadia, interior de Alagoas, com a finalidade de acompanhar a missa de 1 ano da morte do tio de Laura, que fez com que ela perdesse a festa com os amigos, situação que acarretou em um estado de tédio e impaciência na adolescente. Freud nos orienta que “o luto, via de regra, é a reação a perda de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela, como a pátria, a liberdade, um ideal, etc.” e que não devemos considera-lo como patológico, pois é um processo natural da vida, mas que necessita de um trabalho para simbolizar este acontecimento, a missa. Miguel tenta lidar do seu jeito com o luto, apesar de nunca falar do assunto com Laura, e é evidente nas suas manifestações o pesar da perda, o distanciamento afetivo entre ambos. Um fato interessante é a ausência dos membros da família, em virtude de ser um ritual simbólico e espiritual que tende a ser coletivo.
Laura usa o celular, mas, principalmente o WhatsApp, aplicativo de comunicação, como uma forma de evitar interação com os antigos conhecidos, e também de permanecer em outro local, por isso, o barulho das mensagens estão sempre presentes no curta. Miguel, por sua vez, evita ficar sozinho, para não continuar o trabalho de luto e senti-lo, por isso que a casa abandonada sempre tem os móveis limpos e a estrutura “suja”. Algo bastante explicito é o clima de tensão que vai crescendo ao longo da obra, até o momento que finalmente acarreta em uma discussão entre os dois. O afeto sem representação e o não dito, sempre acaba se manifestando de outra forma quando a palavra não é usada – a tensão. Além disso, a menina tem como função o trabalho doméstico, que pode ser mais um fator estressante.
A protagonista reclama de uma dor no pé e Miguel afirma que pode ser derivada da ausência de banho. Em um segundo ato, é visto Laura de forma mecânica se limpando, nesse momento de limpeza ela esquece de tirar o celular do bolso do short, o que ocasionou na sua separação do objeto que tinha a função de “evitar”. A partir disso, a menina inicia contato com os moradores, no primeiro encontro com uma colega, ela é informada de como aconteceu o anuncio da morte do seu tio; estava previsto para acontecer uma festa, que posteriormente à notícia, que foi cancelada. Laura não entende o porquê e a colega explica que há uma solidariedade mecânica, na qual a morte é sentida como coletiva.
Esse é o despertar. Laura tem uma abertura para sentir o luto e comiseração pela dor paterna. E finalmente, a dor no pé passou. Miguel continua distante, sem usar a boca para manifestar sua dor, e as câmeras são certeiras ao mostrar isso de forma agoniante. Como ficamos da mesma altura poderia ser trocado por “como tu cresceu, hem”, uma referência aos laços afetivos que o tempo não pode destruir, a ligação que há entre os antigos moradores e os que continuaram a residir. De forma alguma, a obra é apenas sobre luto, mas também é sobre luto. O curta-metragem fala sobre distanciamento afetivo, sentimento de pertencimento, machismo, amizade, luto e amor.
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