Crítica: Subsidência (dir. Beatriz Vilela e Marcus José)

Texto: Matheus Costa. Revisão: Larissa Lisboa.

As paredes.

A proposta crítica do curta-metragem Subsidência (2020) é crucial. Pois ao abordar um tema que poderia ter sido tirado de um filme de terror – casas abandonadas, rachaduras e ruas vazias, não existiria outra forma. Os gestos quase teatrais da protagonista são certeiros, em virtude de não precisar usar a boca para demonstrar o que está sentindo.

Os planos e sons são fundamentais para construção narrativa e para expressar a revolta no decorrer do filme. As paredes dizem o quanto foi devastador e brutal para os moradores o acontecimento. A escolha de expressar isso no curta é eficiente, uma vez que o grito foi silenciado, mas os das paredes não. O clamor por justiça, “reparação”, saudade e impunidade foram manifestados nos muros. Os efeitos sonoros são exatos ao enfatizar as emoções presentes nas imagens, visto que o silêncio da protagonista é simbólico, e não precisa falar para dizer.

A estrutura lógica que organiza o curta-metragem, facilita a compreensão da denúncia inerente ao filme. A chegada em casa (no início, local de intimidade e aconchego) e o decurso da corrida sem direção (meio) até chegar na Brasken (fim). Corrida que representa o desespero para saber o que estava acontecendo. O fim é categórico ao mostrar nos planos e no som o porquê de as casas estarem abandonadas, das rachaduras e das ruas vazias. Apesar de apresentar uma organização estrutural e ter uma relação complementar entre fotografias e efeitos sonoros, o curta-metragem peca nos detalhes da Irene (protagonista do curta), com o uso de objetos que não condizem com o estado ou condição psicológica da personagem.

O objetivo de fazer um filme híbrido foi certeiro ao tratar este acontecimento e mostrar uma dimensão afetiva entre os moradores e suas casas. Esta pegada mais documental com ficção oferece uma camada dramática, no sentido de alertar sobre os males que estão esquecidos pelas autoridades, que não é apenas uma casa, mas também um local de história, de afetos e que o crime ambiental causou danos além dos percebidos visualmente.

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