Crítica: Dentro de mim (dir. Dayane Teles)

Texto: Matheus Chagas. Revisão: Tatiana Magalhães.

Um filme-mergulho

Dentro de Mim é um documentário que brinca com o espaço, com a ideia da documentação do cotidiano, que faz com que consigamos enxergar aquilo que só existe dentro da cabeça do artista que nos conta sua história. No começo do filme temos poucas imagens dele, mas o vemos e o ouvimos nas árvores, na margem do lago, no som de algo que se aproxima.

Há uma sombra na água, esguia, escura, escorregadia, dançando submersa. Há um homem deitado na superfície, boiando por cima da sombra, contando sobre uma memória da infância, o relato de uma perda, sua história de origem ou o começo de sua obsessão.

É um filme-mergulho na cabeça de um artista apegado à própria história, do momento chave do início até sua liberação, que brinca com o corpo e com o espaço a partir de imagens que dançam na tela, contornadas por um lápis amarelo, dando vida àquilo que à primeira vista parece incompreensível, impossível de ser real.

É um mergulho psicológico porque em alguns momentos nos sentimos enclausurados em sua narrativa, tentando encontrar uma forma de sair das garras daquela sombra escura da qual o artista se lembra tão bem que chama de anjo, de ser, de coisa. Gosto de como a imagem do ateliê com milhares de olhos funciona como a representação de um acordo, faces que observam o artista trabalhar, como se estivessem ali para confirmar que ele continuaria a cumprir sua promessa: dar forma ao “anjo de luz” que o visita desde a infância.

Dentro de mim é um trabalho primoroso porque consegue filmar aquilo que é mais subjetivo, o processo artístico de um artista, tentando registrar através de intervenções no espaço o imensurável. Pouco importa o significado real da sombra, importa o processo, importa a forma como se filma o silêncio, a forma como se busca dar sentido às suas próprias angústias, e é por esse caminho que o filme nos leva a mobilizar vontades, desejos de, assim como as esculturas feitas por Jackson, encontrar formas de moldar aquilo que nos inquieta e que não sabemos muito bem o que é.

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