Crítica: Dentro de mim (dir. Dayane Teles)

Texto: Luiz Otávio Mendonça. Revisão: Tati Magalhães.

Dentro de Mim: sobre crença, criação e os mistérios que instigam o olhar

Como capturar a essência de um artista? Como registrar e expor os mecanismos que conduzem o processo criativo sem esvaziar a subjetividade daquilo que foi construído? Ao trazer a figura do artista plástico e artesão alagoano Jackson de Lima para o centro de sua câmera, a cineasta Dayane Teles nos propõe uma experiência imersiva sobre criação, mas que também fala de crença.

Dentro de Mim é um filme que passeia pelo documentário e pela ficção, em que um gênero parece prevalecer sobre outro a depender da forma como você o observa e o absorve. Na reconstrução de um evento específico da vida do artista, a diretora consegue, com cautela e inventividade, se distanciar de alguns caminhos fáceis e tradicionais do gênero, trazendo novas possibilidades de fazer cinema documental e independente em Alagoas.

Da primeira até a última cena, o universo de Jackson, que é relatado pelo próprio e registrado pela diretora, é o todo que nos interessa. Sua relação com a natureza, fé, arte e criação são pontos que se entrelaçam e constroem um retrato interessante sobre o seu cotidiano, sua vida, o seu trabalho e que também estão presentes na encenação de um evento espiritual do passado.

Com o artista ao centro do quadro, em meio a natureza, uma figura misteriosa o persegue, o levando ao confronto. Toda a situação determina um ponto de virada na história e instiga nosso olhar sobre as etapas do seu processo criativo e na crença vendida pelo próprio filme, pela maneira como a cineasta utiliza dos elementos de imagem para recriar o que ouviu. Estão ali, em uma dança coreografada, filme, personagem e mitologia. Depois, já em seu ateliê, mais uma vez ao centro da câmera de Teles, o artesão está cercado por suas criações e a tal criatura, agora vista pelo olhar, está espalhada por todo o ambiente.

O que parece é que a crença pelo material foi um fator determinante para que a diretora conseguisse criar uma experiência instigante e que nos fizesse abraçar as possibilidades e provocações que o cinema é capaz de trazer, levando isso também para o extracampo, a vida aqui fora da tela. A realidade documental do filme e a espiritualidade da história agora dançam e são um só. A fé nesta união vai depender do olhar de quem vê.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*