Crítica: Laroyê (dir. João de Santos e Vitor Cachoeira)

Texto: Katia Barros. Revisão: Chico Torres.

Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje

Ao serem sequestrados, traficados e trazidos para o Brasil, se engana quem pensa que o povo africano cruzou os mares sozinho. Os deuses, seus orixás, que lá cantavam e dançavam também, migraram para nação verde e amarela onde apenas um destino possível lhes fora traçado: sofrimento e morte.

Sofrimento e morte como recompensa por dias de trabalhos forçados. Labuta imposta pelo ricochetear das chibatas que adornavam poderosamente as costas dos capatazes. Brancos em sua maioria. Planta cana, corta cana, cana corta. Constroem engenhos, produzem açúcar, mas bebem uma vida amarga. Uma vida sem identidade. Porque muito pior do que arrancarem-lhe de seu continente, foi a perseguição e proibição de uma cultura plural que tinha como alicerce principal a religião. Os cultos aos seus Orixás, deuses que dançam ao som dos tambores, que foram violentamente silenciados.

Em Laroyê, assistimos, através do personagem Lazaro, essa busca pela espiritualidade de seus ancestrais. Filho de mãe solteira, mulher dedicada a fazer de seu menino uma exceção dentro das estatísticas, ele, ainda criança, recebe o guia daquele que será seu Orixá ao longo da vida: Obaluaê. Sua mãe, filha de Exu – aquele que chega primeiro – tenta blindar o filho através de sua fé, talvez prevendo que partiria cedo desse plano.

Ao sentir-se sozinho na vida, nosso protagonista se vê perdido no mundo. Não se reconhece e nem se identifica com nada. Esqueceu no meio da rotina que nunca esteve só, que, uma vez apresentado aos Orixás, será sempre protegido das armadilhas da vida, dotado de uma força que nem sabe que tem, mas que lhe dará coragem para sempre continuar resistindo, afinal Luta é movimento pra viver.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*