Crítica: Lugar Comum (dir. Pedro Krull)

Texto: Karlla Sart. Revisão: Larissa Lisboa

Um lugar no mundo

Chuva, rua, reflexos, uma silhueta que dança, a silhueta de uma persona, personas, quatro delas.  Surge a figura de um homem que, com uma árdua potência artística, vale-se do jazz para convidar o espectador a refletir sobre o comportamento comum de uma sociedade em fadiga.

O filme é baseado no espetáculo homônimo do Centro de Pesquisas Cênicas (CEPEC). O que ele oferece? Dança, teatro, música e toda a beleza das artes complementares. Depois do convite ao som de Take Five, mergulha-se na imagem da mulher, sinuosa, que flutua em movimentos autênticos (incomuns?). Ela parece carregar toda a força de ser mulher. Uma persona reconhece e investiga sua própria imagem em um espaço espelhado, público, comum, enquanto a outra figura chama atenção para o caos do nosso cotidiano ao sinalizar para um ônibus que surge em cena rebobinada, quase que imperceptivelmente.

A cor harmoniosa e agradável da maior parte do filme é responsável pelo incômodo que se sente durante as cenas em preto e branco. Qual seria a razão dessa escolha? Por outro lado, os quadros parecem ter sido muito bem desenhados e conversam com as partituras corporais. As imagens são de corpos que, apesar de se apresentarem abstratos, falam – e falam muito.

Lugar-comum seria um chamado para transpassar o conceito da própria expressão? Uma intervenção artística em um espaço de fluídas relações humanas? O filme capta figuras que personificam a arte em uma ocupação de espaços públicos e democráticos. Seriam esses os lugares de expressão? Há espaço para habilidades artísticas em lugares comuns ao coletivo social?

A obra soa como uma verdadeira crítica, não só ao que se faz no campo externo, como também ao próprio indivíduo que vive em busca de um lugar no mundo. Como ser real fora do conforto de nossa privacidade? Será que conseguimos nos libertar de nossos pudores em espaços que todos nós ocupamos no dia a dia? Se o lugar é comum, pertence a todo mundo.

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