Crítica: Mãos de Sangue (dir. Fabrício Medeiros)

Texto: Franklin Lessa. Revisão: Larissa Lisboa.

Já não havia mais em mim a esperança de encontrar tempo durante a sexta-feira, 13 de dezembro de 2019, para fazer o ritual que sempre fiz desde a infância: Assistir um filme de terror, acompanhado da adrenalina que só algo do tipo me proporciona. A correria me fez esquecer, que no “dia do azar”, quem ama esse gênero, pode ter muita sorte.

Foi assim, que chegado o momento da abertura do 4° dia da Mostra Sururu de Cinema Alagoano, tive surpresa ao ser contemplado com um curta experimental de horror.

Mãos de Sangue (2019) de Fabrício Medeiros, tem apenas 2 minutos. O suficiente para incomodar, questionar e apavorar. O público pode falar o que for, mas, se sentiram algo desse tipo, o trabalho cumpriu com a proposta.

Lembro que fiquei muito animado com o que vi na tela, mas ao final da sessão percebi o descontentamento de algumas pessoas em relação ao filme. Muitos não entenderam, ou simplesmente não gostaram. Eu? Amei!

A narrativa inicia com uma referência bíblica. Há fórmula mais assustadora que essa? Incluir o divino em obras que falam sobre o despertar do maligno, é sensacional. O Exorcista (1973) e A Profecia (1976) estão aí para provar. Especialmente o segundo, que não mostra quase nada de assustador, mas a atmosfera faz o público tremer até hoje. E grande parte da culpa desse sucesso atemporal é a trilha sonora, que ganhou até Oscar.

Mãos de Sangue faz uso desse recurso de maneira satisfatória junto das imagens agonizantes. Em um filme que não há diálogos, esses artefatos ajudam a história a seguir uma narração linear. Sim, ao contrário do que muitos indagaram, essa obra tem começo, meio e fim.

Visualizo no personagem enigmático do curta, os tantos membros da nossa sociedade presos em algum ou vários tipos de problemas, que por não serem resolvidos, tornam-os visíveis também nas diferentes mãos que os tocam. E esse sujeito nem é culpado por completo, é uma mazela coletiva.

Porém, sempre é chegado o dia em que a água se acaba e não conseguimos mais lavar as mãos das nossas responsabilidades. É quando temos que assumir riscos que nos expõe em várias situações para fora da nossa zona. Como se o sangue derramado por nós, nos outros, saísse do quarto escuro e se tornasse visível.

É fácil lembrar de O Iluminado (1980), nas cenas do machado, na evidência na fechadura, e a expressão do personagem, que parece ter passado pela mesma agonia e loucura de Jack Torrance.

A narrativa de dois minutos e sem diálogos, conversou comigo muito mais do que tantas outras que falaram, falaram, falaram e morreram ali.

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