Crítica: Nas Quebradas do Boi (dir. Igor Machado)

Texto: Vinicius Brandão. Revisão: Tatiana Magalhães.

BUMBA ALAGOAS

Gosto da rica diversidade cultural apresentada no documentário Nas Quebradas do Boi, de Igor Machado. Há ali um diálogo interessante e vívido da periferia alagoana, estabelecido tanto por meio do Bumba meu Boi, dança folclórica tão icônica de nosso estado, quanto pelo rap, numa percepção mais contemporânea. E esse diálogo se estabelece por meio da ambientação consistente no Vale do Reginaldo, uma periferia construída por diversas pessoas advindas do interior de Alagoas. Desta forma, essa grande unidade alagoana emerge de um aparente isolamento e “explode” no fim, embora sem grandes dimensões.

Primeiramente, esse emergir se dá a partir de uma gradação da narrativa. O local é apresentado por tomadas aéreas feitas por câmeras em drones, seguido pela apresentação das pessoas envolvidas na história: o grupo musical Tequilla Bomb, o grupo cultural Boi Gavião e Zé do Boi – figura querida da comunidade que ganha espaço especial na tela. O emergir se desenvolve por meio de uma troca bastante rica e instigante desses agentes, ressaltando com isso a identidade daquele lugar e humanizando um local que de longe parece ser tão desumano. Me agrada bastante essa humanidade dada ao ambiente. Esse olhar acolhedor recíproco entre essas pessoas nos aproxima da comunidade. Nesse sentido, a participação dos moradores é essencial, quer dizer, ela cobre o documentário com um peso maior de união, carinho e pertencimento.

Por tudo isso, esse desenvolvimento nutriu uma expectativa crescente, que a meu ver, se mostrou insuficiente. De pronto, vejo como um ponto interessante o uso da câmera que, sempre inquieta, nos apresenta ângulos menos convencionais, com uma inclinação mais acentuada. Nesse aspecto, acredito que há certo exagero, embora entenda essa escolha como forma de se relacionar ao movimento de dança do boi e de todo esse intercâmbio cultural existente.

No entanto, há cenas em que esse uso fica deslocado, como aquelas em que os personagens se apresentam em locais fechados, conversando, o que pode tirar o espectador do filme, esvaziando o impacto no momento oportuno. Esse momento é representado pela “explosão”, que veio, mas sem grandes proporções. Esse clímax – representado pelo término do boi e sua ida às ruas – é, portanto, brando e exageradamente efêmero, tendo em vista todo o desenvolvimento acentuado anteriormente ter sido em direção a este momento. Ele poderia se dar de maneira mais enérgica, com maior tempo de tela, cristalizando a relação entre a comunidade e os respectivos movimentos culturais que lhe pertencem.

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