Crítica: Nem todas as manhãs são iguais (dir. Fabi Melo)

Texto: Macio Amaral. Revisão: Chico Torres e Larissa Lisboa.

O luto é um processo doloroso. Aos olhos de uma criança, o ato de se acostumar à ausência de um ente querido ganha uma abordagem sensível e saudosa em Nem todas as manhãs são iguais, de Fabi Melo.

O filme acompanha a pequena Ana junto do pai. Eles precisam voltar à casa da avó dela, pouco tempo depois que ela morreu. O filme utiliza diversos closes na garota, em planos-sequência que utilizam da narração dela para construir essa interpretação pessoal e infantil do luto. Os sons onomatopaicos que acompanham os closes em muitas cenas ajudam na ambientação de todo o espaço explorado, especialmente no início.

Os cortes são bonitos e a direção utiliza cores vivas e uma trilha sonora adequada que dá o tom regional. A obra tem um grande apelo, mas começa a perder o fôlego quando a menina abusa de falas demasiadamente intencionais para lembrar da avó e que soam forçadas em certo ponto. E se essa intenção em priorizar tanto a narrativa da menina acaba desgastada, por outro lado basta olhar com mais atenção para enxergar a riqueza do pai, personagem muito bem interpretado.

Há muitas nuances no luto vivenciado pelo homem, filho da personagem que faleceu. A pose de bruto e carrancudo perante à filha numa tentativa de mostrar “força”, o silêncio para algumas perguntas da menina e o olhar que muito fala sobre dor e saudade. O protagonismo dele, muitas vezes silencioso, merece destaque no filme.

O curta de Fabi Melo traz elementos que tornam quase impossível não se permitir ser tocado em algum momento, principalmente por trazer uma temática vivenciada por todos. Apesar de pecar em alguns exageros, é um filme que cumpre com a proposta.

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