Crítica: O Branco da Raiz (dir. Anderson Barbosa)

Texto: Franklin Lessa. Revisão: Leonardo Amaral.

Preservando uma tradição através do cinema

O Branco da Raiz (2019) nos transporta ao cinema dos anos 20 em que pouco se falava, mas muito se dizia. O curta dirigido por Anderson Barbosa consegue atingir o sentido literal de documentário e me trouxe a sensação de estar lendo escrituras sobre um período histórico de muita relevância.

Se a equipe dispunha do desejo de deixar eternizada uma cultura que pode se esvaecer a qualquer momento, o objetivo foi alcançado. O personagem que junto da família mantém uma casa de farinha em funcionamento diz que, caso não haja interesses dos filhos, esse costume que garantiu o sustento deles durante anos não será repassado. É uma das poucas falas do senhor que me pôs em dúvida se o protagonismo do curta está entre ele que cultiva essa técnica de produção, a própria farinha de mandioca produzida em casas como a retratada, ou se a família inteira divide esse espaço, já que é uma atividade coletiva.

Um trabalho presenciado ao meio das belas cenas capturadas desse processo que aparenta ser realizado com muito orgulho. Torna-se evidente associar a cor e iluminação do documentário ao título, que faz alusão a matéria-prima, mas creio que não há fuga para isso. A escolha da fotografia em preto e branco me fez indagar no início se o recurso era de fato necessário para a narrativa, entretanto a beleza que esse efeito exprimiu na tela me calou velozmente. A cena da mandioca se transformando em farinha foi tão bem destacada pelo preto e branco, que não consigo enxergar essa obra de outra forma. O silêncio que pairou em mim fez matrimônio com a quietude do filme. Tudo se encaixa de tal maneira que a mensagem é passada e recebida como em uma troca comunicacional que flui e ecoa.

A produção oferece ao espectador bastante espaço para reflexão, e dentro desse tempo devaneei sobre o provável fim da tradição. Não consigo expressar se enxerguei como conformismo ou se era mesmo compreensão dos personagens em relação às mudanças do tempo moderno, mas não senti tristeza vindo dali e sim um sentimento de dever cumprido. O mesmo que a equipe do filme deve compartilhar por terem conseguido transpor para as grandes telas essa prática realizada no decorrer de tanto tempo pelo nordeste, fazendo com que pelo menos, dessa forma, essa cultura não morra para as futuras gerações.

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