Crítica: O retirante (dir. Tarcísio Ferreira)

Texto: Breno Silva. Revisão: Leonardo Amaral

A terra natal enquanto símbolo que deixa marcas tão profundas que é difícil ignorá-las. As imagens que compõe o documentário são um breve resumo da vida de Johnson Cavalcante, falam mais das roupas, pessoas, lugares, casas, animais que ilustram o lugar de sua origem, do que do próprio sujeito da história. Ao fundo ouvimos o cantar de moças destalando fumo, o passado ecoa na vida do estilista e na sua arte. Sua roupa é suspensa num pé de cajueiro, os galhos são sustentáculos do que hoje formou o retirante do passado.

Mais do que ser um simples exercício de reconhecer os valores e significados que emanam daqueles espaços, o curta dirigido por Tarcísio Ferreira sonda a zona rural de Arapiraca enquanto elemento formador de não só Johnson, mas de todos os retirantes. Longe de fetichizar a roça, entende-a enquanto elemento importante de criação: o mais pessoal é o mais criativo.

Johnson só é como é porque a roça o fez, as imagens funcionam numa ótica contemplativa porque é assim que o protagonista as vê. Reverenciar o seu ponto de partida é papel de quem se foi. As passarelas de São Paulo carregam aquilo que nunca deixou Johnson de fato, pois o mundo do retirante se encontra na encruzilhada entre a terra que deixa com a que o espera. Sair em destino ao sonho, voltar com ele.

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