Crítica: Teu olhar não me traduz (dir. Mozart Albuquerque)

Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa

A criação do desconforto 

Aquilo nos incomoda a ponto de nos causar desconforto, pode se tornar o primeiro passo para a maior revolução de nossas vidas. É assim que penso, quando relatos como de Márcio André, Rodrigo Barros e Rhayza chegam até a mim. 

Nos dicionários brasileiros, a palavra preconceito é autoexplicativa, ela significa: ‘Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos necessários sobre um determinado assunto’. Esses preconceitos, na nossa sociedade, servem basicamente para validar uma realidade discriminatória e cruel. 

Tendo em vista que, todo esse processo tomou como base várias falhas sociais que afastaram as mulheres, os negros, os pobres, e todos aqueles que não seguem o padrão da sociedade, dos seus direitos. Acredito que Teu olhar não  me traduz (PE), se tornou essencial para discutirmos mais uma vez sobre um assunto que dizimou e continua dizimando centenas de vidas pelo mundo.

Pessoas negras de todos os gêneros, formas e classes sociais, são discriminadas, violentadas e assassinadas todos os dias no Brasil. Seja na fila, no ônibus, nos shoppings, supermercados, estão sempre legitimando o ódio na cor da pele. É tanta selvageria que precisamos erguer nossas mãos para pedir por nossa liberdade. 

No filme, Rhayza, uma jovem gorda relata como seu corpo incomoda a sociedade, e que por não saber como falar sobre sua imagem, a evidenciou em sua arte. Seu corpo não é só um corpo, mas um corpo gordo que não se encaixa nos padrões aceitos por essa sociedade gordofóbica. 

E o que falar da cor da pele?  Márcio André (dançarino) e Rodrigo Barros (estudante) foram vítimas de racismo. Marcio foi abordado pela Polícia Militar que criticou seu cabelo e suas vestes, já Rodrigo não teve seus serviços aceitos por se tratar de um jovem transexual negro. 

-De onde tiraram tantos absurdos? Qual foi a base para a criação desses conceitos?-

O que posso afirmar é que todas as formas de preconceito são indomesticáveis, não há outras maneiras de combatê-las se não for através da educação da nossa sociedade.

Não se pode atacar um povo sem esperar que haja uma reação, seja ela em forma de filme, música, desenho, grafite. A arte é a maneira mais pura e feroz de educar este corpo político-social.

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