Crítica: Zero (dir. Sacha Bali)

Texto: Jaiane Karoline. Revisão: Chico Torres e Larissa Lisboa.

A Soma de Todas as Forças

Zero, um curta nada despretensioso e convencional. Entres os efeitos de se produzir cinema “fora da caixa” está a potencialidade de gerar autorreflexões durante a exibição na tela. Uma dessas introspecções pode enveredar pelo viés das vozes e forças múltiplas que se têm dentro da mente de cada um. E bem sabemos que a soma de todas as forças é igual a zero.

O filme mistura, separa e volta a unir os personagens. Enquanto ser humano, pensante e pulsante, revela que não é sozinho, pois carrega em si as memórias vividas em fases diferentes, os diversos desejos que confrontam as várias partes de si mesmos. O embate é árduo, mas nem por isso são utilizadas falas.

É, portanto, por meio de recursos como a performance dos atores, os movimentos corporais e expressões faciais, a velocidade das cenas e o uso de mecanismos na fotografia do filme que é possível trazer a atmosfera de confronto e drama que preenchem a narrativa. A angústia do conflito interno está bem marcada nas atuações dos atores, em especial na de Gracindo Jr.

Quanto à fotografia, em algumas passagens de plano, uma imagem quase sobrepõe a outra em transições de personagens, de modo que há momentos em que a pessoa que o público começa a acompanhar é uma, mas em dado instante é outra. Esses pontos de convergência corroboram com a ideia de mistura entre as identidades da criança, do jovem e do velho.

Ademais, outro artifício fotográfico que chama atenção é o emprego de preto e branco em algumas ocasiões de embate e introspecção, que contrasta com o o uso das cores quando os personagens se individualizam, os pontos mais divergentes quanto à mesclagem deles. Então quando o velho encara o garoto e este lhe estende a mão, por exemplo, a imagem está colorida, pois o menino que constrói castelos de areia representa, possivelmente, a perspectiva humana de alguém que ainda não enfrentou percalços na vida e por isso brinca, por isso não carrega o peso do descontentamento.

O caos organizado presente no filme traduz uma miscelânea de vozes dentro de cada um, que dialoga com um pensamento de Osho: “Todo mundo nasce como um único indivíduo, mas depois que amadurece o suficiente para participar da vida torna-se uma verdadeira multidão”. E Zero cumpre bem o papel de carregar consigo essa perturbação plural bastante poética.

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