Crítica: Parteiras (dir. Arilene de Castro)

Texto: Beatriz Vilela. Revisão: Janderson Felipe.

A potência do corpo feminino contada por nossas avós

Arilene de Castro, uma das primeiras realizadoras do cinema alagoano, que tem como temática principal em seus filmes a cultura popular, mostra-nos em sua mais nova produção, Parteiras, um documentário que busca ser um registro de memórias das parteiras agrestinas e sertanejas de diferentes cidades de Alagoas. As protagonistas do documentário mostram-se completamente à vontade, parece até que elas estão do lado do espectador narrando seus casos, tal como fazem nossas avós.

Somos conduzidos para um universo de histórias, superstições, catolicismo popular e conhecimentos tradicionais, que carregam o peso da ancestralidade e da tradição. São relatos de parto contados a partir de quem vivenciou incontáveis vezes a chegada de bebês ao mundo, e que aprendeu na prática, fazendo, a auxiliar outras mulheres a parirem. Nesse mundaréu de afetos construídos pelo/para o parto, cada mulher expressa, em suas narrativas, a potência do corpo feminino e como nascer é muito mais natural do que a medicina hospitalocêntrica prega. Os planos médios e as cores quentes de suas casas colaboram com essa aproximação entre as senhoras e o espectador.

Além de um registro de memórias, o documentário também dá tela ao empoderamento de uma geração de mulheres que se utilizou de suas ervas, cantos e coragem para estar do lado outras mulheres. É sobre uma ajudar a outra. É afeto pulsando.

Assistir esses relatos me reportou a um passado mais longínquo e outro recente. Me fez lembrar da minha avó, mulher batalhadora nordestina, que assim como tantas outras Marias, pariram meia dúzia de bebes em casa de modo natural. E que servem hoje, como inspiração para as parteiras urbanas, que bebem na fonte da parteria tradicional para empoderar e auxiliar, mulheres que como eu, também optaram por parir em casa de modo natural.

Os vinte e quatro minutos do filme parecem ser curto para as noves memórias, apesar de falarem sobre o mesmo evento, o parto, cada uma descreve de uma forma muito singular. Nesse sentido, Arilene soube captar essas singularidades com uma fotografia mais intimista.  Em Parteiras, o cinema coloca-se como um espaço de construção da memória, para salvaguardar as narrativas sobre as cosmologias que dotam de sentindo nossas ações, para que não esqueçamos de como e onde viemos, e que parir é natural.

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