Elizabeth Caldas indica

Texto: Elizabeth Caldas*.

Viajar pelo Alagoar é sentir possibilidades. É se dar conta de que a estética de um espaço se faz tão diversa quanto suas personagens. Neste convite para construir uma curadoria das produções alagoanas, sigo uma lista pessoal, íntima. Escolho o feminino na água, no corpo, na fêmea, no afeto e na ancestralidade.

No “Corpo d’água” e suas representações encantadas de beleza. Misturado na grandeza das imagens, da opulência da água, o eterno chega na criança brincando no barco, local tão familiar. O cheiro, os pedaços, um canto tão dela rodeada pela lagoa, a maior.

Em “Tipóia”,  a maternidade como resiliência. Num diálogo mais ou menos assim, de uma mãe para o filho recém operado: você fala que eu escrevo… mas mãe, eu posso querer mudar. Ela insiste: eu apago e escrevo de novo. Ela quer ajudá-lo na escrita. Na retomada de suas criações. No continuar da vida. A força do dia a dia, da sobrevivência. Seja qual for a vida no momento.

Em “A Barca”, a maternidade surge como urgência. A figura da mulher como travessia. Como ação. Três mulheres se relacionam no imenso. Na incerteza do caminho, na vagueza do destino, na esperança ao desesperar. Elas podem não saber aonde vão chegar, mas não existe hesitação em seguir.

Meu lugar” lembra um verso muito conhecido do poeta ao colocar o afeto como reencontro. A amizade que reconhecemos no toque, na presença. E no registro, esse lugar tão íntimo do receber, se transforma em potência e acolhimento.

O pertencimento pulsa em “O que tenho, lembro”. É, mais uma vez, a vida clamando precisão e zelo.  A ancestralidade, na potência do cuidar. É o infinito de uma rotina dura, seca, silenciosa e doída. É o belo no sobre viver. É sobre terminar o café e já pensar no almoço.

Colapsar” é gesto conflitante com o outro, não reconhecido. A pressa do movimento sem esperar permissão, sem acordo. É arte que desencaixa mesmo encontrando seu lugar.  É o que permanece na gente depois de desmoronar.

Eu acredito que a experiência de assistir a um filme é única. Que cada um vivencia o seu momento. E é nessa perspectiva que a arte encontra a sua metamorfose, seus possíveis, seu eterno. Cinema é eternidade.

*Elizabeth Caldas, professora e roteirista, trabalha, desde o ano de 2008, com audiovisual e educação pública. Realizou Conversa Adolescente, série documental com alunos para uma plataforma de formação de professores no Rio de Janeiro. Desde 2019 mora em Maceió onde participa de discussões de políticas públicas para voltadas para o audiovisual alagoano; compõe a curadoria de festivais e mostras e colabora com a escrita de projetos da Casa Ateliê Ambrosina. Atualmente escreve o roteiro de uma série documental e produz o curta metragem, Relato número um selecionado no edital emergencial Sesc Convida.

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