Mostra Sesc de Cinema: Tipoia (dir. Paulo Silver)

Texto: Leonardo Amaral. Revisão: Larissa Lisboa.

Entre os filmes que compõem a III Mostra Sesc de Cinema, Tipoia (dir. Paulo Silver) é um dos filmes do Panorama Nordeste.

Paulo André Silver captura com Tipoia um sentimento que vem perdurando nos últimos anos, uma sensação que se instalou desde a queda de Dilma. Em seu mais recente curta-metragem, Paulo atua mais uma vez como ele mesmo em uma situação pós-acidente enquanto se vê obrigado a estar em casa. É uma crise de imobilidade, uma estagnação em relação a si e ao mundo.

Os contatos de Paulo com pessoas de fora da sua casa se limitam a áudios de WhatsApp que recebe dos amigos, falam sobre suas empreitadas artísticas, empregatícias, que logo se relacionam com fragmentos da vida de Paulo, com seu processo e sua imobilidade. Em um contexto macro para a vivência do diretor e de seus amigos, a promessa da reforma da previdência que vai e volta no decorrer do filme adiciona uma ironia a tudo isso que era forte na época do governo Temer e hoje em dia se torna pior. A montagem relaciona esses elementos com o processo de recuperação de Paulo em um fluxo que preza pela manutenção desse sentimento estagnado.

Se em Eu Me Preocupo, filme anterior de Paulo André, a casa era extensão daqueles que a habitavam, especialmente da protagonista do filme, Jande, em uma sincronicidade de evolução e arranjo entre a personagem e seu espaço em um filme que era de amor, de afeto, aqui é o contrário. O foco se coloca somente em Paulo, em sua dor, e o apartamento se torna fortaleza e algoz tanto pra dentro quanto pra fora. Os amigos de Paulo passam dificuldade, artistas e trabalhadores de outros estados também. Ele está constantemente olhando pela janela buscando outros sinais de vida e só se deparando com espaços vazios, com prédios impassíveis. É um sentimento que pode ser traduzido no fragmento da poesia de Ana Cristina Cesar, DE ANA PARA EDUARDO

ela aqui se sente mais exposta
mais exterior do que interior
como se a casa não fosse doméstica
como se morar fosse uma afronta
à intensidade do dia”

O corpo que se vê impossibilitado de tomar a cidade, de experimentar o mundo, porque está debilitado, mas também porque o mundo não está aberto a ele, e ele se martiriza pelos dois motivos. Ao se colocar em tela nessa situação, ao se expor de tal forma, Paulo se coloca também representante daqueles que não se sentem capazes de ir às ruas. Um dos takes finais de Tipoia é um plano da cidade deserta que se vê cortado por uma viatura da PM com as sirenes acesas. O Brasil pós-impeachment, que se vê inocupado e, quando manifestando algo, sendo só mais uma de suas instituições. Em um primeiro momento isso parece uma denúncia ao Estado Policial explícito que se fortalece no país, mas é também uma outra mensagem: a cidade só pode ser ocupada pelo Estado, não pelas pessoas. 

Leonardo Amaral acompanhou a Mostra pelo Alagoar e compartilharemos nos próximos dias as impressões dele sobre alguns dos filmes que serão exibidos na programação da 3ª Mostra Sesc de Cinema em Alagoas até 29/11, acesse a programação que está sendo realizada pelo Sesc Alagoas em Maceió e Arapiraca. A previsão é de que exibições dessa terceira edição sejam realizadas pelos Sesc por todo o país até 15/12.

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