Resenha: A Barca (dir. Nilton Resende)

Texto: Matheus Costa. Revisão: Larissa Lisboa.

Travessia, natal, insólito, fé e verde.

Lygia Fagundes Telles (1923), escritora brasileira, escreveu um conto intitulado de Natal na Barca (1958). Este faz parte do gênero insólito que tem uma estrutura literária peculiar. O diretor Nilton Resende consegue passar esta estrutura para o audiovisual, a partir do seu curta-metragem A Barca. O filme que tem como principais características o mistério e as perguntas sem repostas, constitui uma narrativa intrigante.

O insólito é a característica primordial no curta-metragem. A escolha de mostrar a magnitude da lagoa perante a barca é certeira, pois cria uma camada de insegurança ao espectador e a noite é mais uma peça chave nisso. Apesar disso, não há certeza sobre a história narrada visto que os critérios objetivos não dão conta e a subjetividade reina no filme cabendo ao espectador emaranhar os fatos na criação de sentido.

Como foi citado anteriormente, o mistério é imanente. As perguntas sem respostas são fundamentais e corroboram com isso, ajudando a perpetuar as incógnitas. Afinal, para onde vai a barca? As provocações feitas no decurso não têm respostas aparentes. Algo bastante interessante é a função que a religião tem no curta. Inicialmente, porque os acontecimentos estão acontecendo numa data extremamente simbólica na mitologia Cristã. E, posteriormente, no clímax do filme (que me faz lembrar do conto de natal do autor Charles Dickens). Este traz uma sensação de estranhamento e de dá arrepios, em decorrência do momento que foi feito na narrativa fílmica.

A Barca faz uma adaptação genial do conto. Ao usar a obra como referência e não como muleta. Faz-me acreditar que há uma particularidade da direção em relação ao texto literário, uma leitura subjetiva com uma ligação objetiva com a obra da Lygia. O gênero literário insólito encaixou-se perfeitamente com a ficção audiovisual. Aliás, o não uso da narração em primeira pessoa deu ao filme uma característica primordial e ajudou na construção do enigma fílmico. Além disso, a fotografia é notável, pois utiliza do uso da escuridão/ luz para auxiliar na construção narrativa do filme.

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