‘Retratos da Nossa Cor’ e ‘O Canto’ são os grandes vencedores da 14ª Mostra Sururu

Texto: Jamerson Soares. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Vanessa Mota.

Cerimônia de encerramento ocorreu neste domingo (10), com homenagens a Werner Salles Bagetti e protestos contra o crime ambiental da Braskem em Maceió

A 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano enfim premiou, neste domingo (10), os curtas-metragens e videoclipe selecionados pelo júri oficial e júri popular, no Centro Cultural Arte Pajuçara. Levando quatro troféus da mostra competitiva, e por sua relevância técnica e artística, o filme Retratos da Nossa Cor, dirigido por Carlos Alberto Barros, foi o grande vencedor da noite. (Veja a lista de todos os vencedores ao final do texto). 

O curta-metragem de 14 minutos e 47 segundos ganhou nas categorias Melhor Montagem, Melhor Direção, Melhor Atuação e Melhor Filme. A avaliação foi feita pelo Júri Oficial composto pela realizadora, produtora e distribuidora audiovisual, Anna Andrade; o realizador, artista visual e produtor não-binário, Viq Viç Vic; e pela atriz, roteirista, cineasta e pesquisadora, Noá Bonoba. 

Retratos da Nossa Cor retrata a vida e obra do pintor alagoano Mestre José Zumba, a partir de recriações das obras com performers em diversos espaços culturais de Maceió, destacando os quadros e esculturas que têm relação com a representatividade de Mestre Zumba. O filme também traz reflexões sobre o não reconhecimento desse importante artista negro aqui no estado e sobre a ausência do referido artista na sala de aula.

Em “O Canto”, vimos Mestra Rosália Gomes como uma espécie de guia por uma imersão da poesia do cotidiano de mulheres que têm suas vidas entrelaçadas com a cultura do fumo: as destaladeiras de fumo de Arapiraca.

Na ocasião, a equipe de produção e realizadores do evento foi chamada ao palco para receber uma curta homenagem e os parabéns pela entrega e compromisso com a organização da Mostra. 

A noite também foi marcada por diversas manifestações contra o crime ambiental da Braskem em Maceió, com a presença do coordenador do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem, Cássio Araújo, que fez um discurso arrepiante acompanhado de aplausos e gritos de protestos do público presente. “Braskem criminosa”, “Fora Braskem” e “Todo apoio às vítimas da Braskem”, foram algumas das frases repetidas no local.

“Hoje a Mina 18 começou a afundar e deve causar um grande desastre ambiental alterando toda a dinâmica de vida e afetando o nosso sururu. E que dá o nome desse evento. E a convite da organização da Mostra estamos  aqui para denunciar e pedir a solidariedade e a conscientização de que esse crime não atinge só cinco bairros, atinge toda a nossa cidade. Queremos aqui a solidariedade e a população que margeia a lagoa. Que possamos apreciar o evento, continuando na luta e valorizando o nosso molusco”, destacou Cássio Araújo.

Também houve uma pequena performance do jornalista e artista Mauro Fabiani, que entoou um canto característico dos produtores de sururu, em alusão ao trabalho dos pescadores e marisqueiras que sustentam suas famílias e colaboram para a economia de Alagoas com a venda desse molusco.

Depois, foi exibido um vídeo sobre o processo criativo e as escolhas de materiais e técnicas utilizadas por Iel, Nathalia Ursa e Thayná, para realizarem as artes da Mostra.

Homenagem a Werner Salles Bagetti

Após o momento de falas e agradecimentos, foi realizada uma homenagem a Werner Salles Bagetti, jornalista, cineasta e realizador, um dos criadores da Mostra Sururu de Cinema Alagoano, e que já protagonizou Alagoas em diversos curtas e longas-metragens, como “Cavalo” e “Exu – Além do Bem e do Mal” (2012). Durante a homenagem, o filme de Werner, “Imagem Peninsular de Lêdo Ivo” (2004) remasterizado, que tem cerca de 55 minutos, foi exibido na tela de cinema. 

Em seguida, foi exibido um vídeo sobre a história e a obra de Werner, com direito a aparições e depoimentos de sua família. O cineasta também foi chamado ao palco para fazer um discurso de agradecimento e, visivelmente surpreso e emocionado, parabenizou toda a equipe. No local também estavam presentes amigos e familiares, como também parte do grupo que gravou junto com ele o filme sobre Lêdo Ivo, como Roberto Iuri.

“Agradeço a todo mundo que se envolveu nessa homenagem. Achei que era só para eu receber algum troféu e só, não que teria isso tudo. Fiquei surpreso. Isso me faz sentir vivo, é um evento cheio de afeto”, disse ele, enxugando as lágrimas. Werner também citou o processo de produção dos filmes e como hoje muita coisa mudou. 

“Eu gosto de fazer filmes com amigos, família, irmãos. É meu modo de trabalhar e me sinto agraciado. Hoje a gente pode fazer um filme com um grupo enorme, com mais gente, antigamente era uma van só e cinco pessoas. Enfim, muito obrigado a todo mundo, valeu mesmo. Agradeço também a Hermano Figueiredo, meu irmão Weber, Roberto Iuri, Lelo Macena, todos”, concluiu.

Depois do discurso, o cineasta recebeu das mãos do artista Glauber Xavier um troféu que simboliza a gratidão por todo o seu trabalho desenvolvido em Alagoas.

Vencedores da mostra competitiva

A sala de cinema do Arte Pajuçara estava lotada de pessoas atentas e na expectativa de saber os nomes dos selecionados. Um dos vencedores foi o estudante de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Yuri Melo, na categoria Melhor Fotografia com o filme Sargaço  O curta foi feito com poucos recursos e o empenho de quem gosta de cinema: o diretor tinha apenas o celular na mão e uma ideia. 

“Eu queria começar no cinema há muito tempo, mas eu não tinha aparatos legais, microfone legal, câmera, equipe. Então eu precisei dar esse start durante uma disciplina da universidade. Eu passei a acreditar muito no projeto mesmo com tão pouco aparato técnico”, relatou o jovem.

Yuri contou que ficou muito feliz por ter recebido o prêmio. “Eu não esperava, esperava uma menção honrosa, não sei. Mas esse era o último prêmio que eu achei que estava na colocação de vencer. Tinha filmes com gente que tem câmera boa, pessoas com aparatos grandes e caros, e não esperava receber esse prêmio. Fiquei muito emocionado e muito feliz”.

A 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano aconteceu entre os dias 7 e 10 de dezembro de 2023, com oficinas, laboratórios de criação, palestras, mostra itinerante, mostra competitiva e exibições de filmes realizados em Alagoas. 

O evento tem realização do Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano (FSAL), produção de Sambacaitá, apoio cultural do Sesc Alagoas e do Sistema de Comunicação Pública de Alagoas (Instituto Zumbi dos Palmares – IZP). A parceria é composta por Alagoar, Cardume, Centro Cultural Arte Pajuçara, Permear – Arte e Acessibilidade, e patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult-AL).

Os vencedores da 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano foram:

• Prêmio Olhar Crítico: “Dentro de Mim” (dir. Dayane Teles);
• Prêmio Anita das Neves de Melhor Atriz: Beth Miranda, do filme “Luz, Câmera e Produção”!;
• Prêmio Permear de Acessibilidade: “Cabocla” (dir. Dário Jr).
• Prêmio de Distribuição Tarrafa Produtora: “O Canto” (dir. Izabella Vitório e Isadora Magalhães).

Júri Popular

• Melhor Videoclipe – “Vermelho”, de Flora Uchôa;
• Melhor Filme – “Luz, Câmera e Produção!” (dir. Adriana Manolio e Charles Northrup).

Júri Oficial

• Menção Honrosa: “Cultura Ballroom: A Arte da Resistência” (dir. Glendha Melissa);
• Melhor Direção de Arte: “O Canto” (dir. Izabella Vitório e Isadora Magalhães);
• Melhor Som: “O Canto” (dir. Izabella Vitório e Isadora Magalhães);
• Melhor Montagem: “Retratos da Nossa Cor” (dir. Carlos Alberto Barros);
• Melhor Direção de Fotografia: “Sargaço” (dir. Yuri Melo);
• Melhor Roteiro: “Queima a minha pele” (dir. Leonardo Amorim);
• Melhor Atuação: Fênix Zion, do filme “Retratos da Nossa Cor”;
• Melhor Direção: Carlos Alberto Barros, do filme “Retratos da Nossa Cor”;
• Melhor Filme: “Retratos da Nossa Cor” (dir. Carlos Alberto Barros).

Todos os videoclipes e curtas-metragens exibidos na Mostra Sururu estão disponíveis de forma online, até 18 de dezembro, e podem ser vistos por meio do site https://mostrasururu.com.br/mostra-online/.