Uma entrevista com Wagno Godez

Perguntas por Rosana Dias. Respostas por Wagno Godez. Revisão: Larissa Lisboa. Foto: Leandro Alves.

Wagno Godez é produtor cultural e realizador audiovisual, dirigiu seu primeiro filme em 2016, Povoado, que foi um dos selecionados para VII Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Besta-fera segundo filme dirigido por Wagno foi realizado através do IV Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual em Alagoas (SECULT-AL/Fundo Setorial do Audiovisual-Ancine), tendo sido selecionado para o 9º Festival Internacional de Cine Político da Argentina, CineFest Votorantim (SP) – 11ª edição, entre outros, colecionando premiações para o elenco, o som, roteiro, direção e como melhor filme em diversas Mostras e Festivais que participou.

Rosana Dias dialogou com Wagno para saber mais sobre a trajetória dele junto ao cinema alagoano, compartilhando também informações sobre o Núcleo do Audiovisual de Arapiraca (NAVI).

Rosana Dias: Wagno, você participou na Produção executiva dos filmes Avalanche (2017), e o telefilme Moto-perpétuo (em produção), como se deu o processo da produção de Avalanche, filme arapiraquense que teve uma ampla divulgação e participação em mostras e festivais?

Wagno Godez: Foi um filme com alguns elementos complicadores em sua produção, muitas locações, utilização de muita figuração, cena em bar, motel, foi um gratificante desafio. Além da produção executiva fiz a direção de produção, minha missão era fazer a realização do filme caber dentro do orçamento disponível. Acabou que não foi tão difícil, pois como a produção foi toda em Arapiraca eu pude utilizar minha experiência de anos atuando como produtor cultural na cidade. Ajuda muito conhecer os lugares, os fornecedores, as pessoas, pude contar com muitas parcerias, inclusive da própria equipe. Tivemos uma boa pré-produção mas os imprevistos sempre acontecem, tínhamos uma cena que seria gravada numa casa de prostituição, um dia antes a dona da casa declinou e não autorizou que fosse feito lá.  Tínhamos um grande problema, se cogitou até em não fazer a cena, mudar ela, foquei em resolver o problema para a cena não cair, tive que resolver tudo em 24h. Chegamos a conclusão que não ia rolar fazer num prostíbulo, teríamos que criar o ambiente, cair em campo, consegui um bar e levantar um grupo de mais de 20 pessoas de figuração, entrou a equipe de  arte e de fotografia e conseguimos montar tudo, fizemos a cena. Fazer Avalanche foi uma oportunidade de ajudar a fazer um set, cujo resultado me orgulho muito, é um belo filme e sua carreira em mostras e festivais foi e é importante não só para o cinema alagoano mas para a cena arapiraquense.

RD: Em 2016 você dirigiu o curta metragem Povoado, seu primeiro filme, como foi para você exercer o papel de diretor?

WG: Foi excitante exercer o papel de diretor. Povoado é um filme improvável, tinha tudo pra dar errado e, apesar de seus problemas técnicos e artístico tenho muito orgulho de ter feito e do resultado. Tivemos pouco mais de 15 dias para fazer a pré-produção, peguei um roteiro pronto com elenco montado, fiz algumas adaptações de roteiro e boas conversas com elenco. A principal locação também já tinha sido escolhida. Renata Sarmento e Moab Oliveira que são os roteiristas e estão no elenco já vinham trabalhando alguns dias no projeto, precisavam de um diretor e da produção, então nos convidaram por conta do meu contato pessoal com Moab, então entramos, eu como Diretor e Leandro Alves, Diretor de Fotografia. Confesso que me senti bem à vontade na função, primeiro porque estava entre amigos, isso te ajuda na confiança, segundo, o cinema é uma paixão de criança, e nesse sentido Povoado foi um presente, uma oportunidade de pela primeira vez fazer um filme como diretor, me empenhei ao máximo no pouco tempo que tivemos.

RD: Besta-Fera, filme dirigido por você em 2018, participou de mostras e festivais, dentre eles a IX Mostra Sururu de Cinema Alagoano, o 9º Festival de Cine Político em Buenos Aires, e a 3ª Mostra de Cinema de FAMA (MG), com premiações importantes como: Melhor Ator para Felipe Rios e Melhor Atriz para Mariah Morello – 2º Cine Cariri – Mostra Nacional Pai D’Égua (CE), Melhor Filme na 3ª Mostra de Cinema de FAMA. Esse intervalo entre um filme e outro possibilitou um olhar, uma direção e produção mais acurada?

WG: Certamente, sim. Besta-fera aconteceu 2 anos depois de rodarmos o filme Povoado, nesse tempo tivemos as oficinas do NAVI, pude ver muitos outros filmes, trabalhei como produtor executivo e diretor de produção no Avalanche, e uma outra coisa que me ajudou foi não esperar o dinheiro do edital sair para começar a trabalhar. Besta-fera tinha algumas adversidades na produção para serem equacionadas, elenco, locação, arte, foi uma proposta ousada para um orçamento de 59 mil reais, acumulei a função de produtor executivo e diretor de produção durante toda pré e pós-produção. No final acredito que conseguimos alcançar o objetivo, concluir bem o que foi planejado. O filme tem sido muito bem recebido pelos festivais que passou, porém o mais importante para mim foi poder ver a diversidade e a qualidade da produção nacional, e concluir que Alagoas está bem colocada e reconhecida neste cenário. Recentemente tivemos 04 filmes, sendo 03 curtas metragens e 01 longa, selecionados para a Mostra de Cinema de Tiradentes, o que é incrível, e mostra a potência da nossa produção e me dá mais segurança e confiança em continuar a fazer cinema e à buscar minha maturidade como diretor. Longo caminho ainda pela frente.

RD: Nos últimos anos Alagoas teve um crescimento com as produções audiovisuais, tanto de curtas e longas metragens, bem como de videoclipes. Algumas produções realizadas de forma independente, outras com verbas provenientes de Editais. Qual a importância destes editais e principalmente para municípios no interior de Alagoas?

WG: Os editais são fundamentais, e eles precisam ser contínuos e sistemáticos.  Estamos na pré-produção do telefilme de Leandro Alves, o Moto-perpétuo, um projeto que já nos permite alçar outro lugar na cadeia produtiva nacional, o que seria muito difícil sem o edital. Acompanhamos durante todo 2019 um ataque agressivo do Governo Federal a ANCINE  e ao movimento cultural do país, penso que não podemos ficar ausentes na luta, precisamos nos movimentar em defesa do que já foi conquistado, não podemos permitir retrocessos, e isso vai nos exigir muita  força e habilidade política.

RD: Em 2019 você, juntamente com Wéllima Kelly e Leandro Alves, ministrou o Curso de Produção de Documentário pelo Sesc Arapiraca. Como se deu o curso, a formação da turma e qual o produto final/documentário produzido pelos alunos e professores?

WG: Foi uma experiência incrível. Trabalhar com Kelly e Leandro é sempre muito gratificante e os processos sempre são de aprendizado. Quando a contratação foi confirmada pelo SESC começamos a pensar na estratégia didática do curso e optamos pela aplicação de processos práticos, que levassem a turma a pensar cinematograficamente e não somente aprender sobre as teorias de produção de documentário, então desenvolvemos um planejamento  onde ela pudesse pôr a mão na massa desde o início do curso, buscando desenvolver o pensamento crítico e a criatividade, e dessa forma conseguimos fazer com que eles, alunos e alunas, passassem pelas mais importantes fases da produção do documentário, desde a ideia, da escolha da história,  do desenvolvimento do roteiro até a finalização. O curso não tinha recurso para realização de um produto final, então sugerimos entrar com o NAVI, que entrou com os equipamentos e a pós-produção. O resultado foi a realização do filme Ana Terra, personagem escolhida por eles. O filme foi selecionado para a 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano, sendo muito bem recebido pelo público. Foi uma sessão emocionante para nós! O filme terminou levando 3 prêmios, um deles o de Melhor Filme pelo Júri Popular. Outra coisa que o curso contribuiu foi com o edital de Arapiraca, alguns dos projetos de Arapiraca que foram apresentados foram de alunos do curso, com os quais mantemos contato até hoje.

RD: O Núcleo do Audiovisual de Arapiraca (NAVI) é um Ponto de Cultura que no ano de 2016 ofertou uma série de atividades de formação audiovisual. Como foi dado início ao NAVI e atualmente como atua?

WG: O NAVI é um projeto que nasceu da sociedade entre eu e Leandro, partimos da necessidade de desenvolver o cinema em Arapiraca. A entidade responsável é Associação dos Artistas de Massaranduba, que foi criada em 2004 para realizar e desenvolver o projeto da Paixão de Cristo do Morro da Massaranduba. Em 2014 foi lançado o edital da Rede de Pontos de Cultura pela prefeitura, foi a oportunidade de colocar em prática parte das ações que acreditávamos ser importante  para a produção local, a realização de atividades formativas. E assim em 2016 fizemos várias oficinas, em 2017 a prefeitura de Arapiraca não renovou o contrato com o MINC e não recebemos as duas parcelas restantes, interrompendo o que tínhamos planejado. Continuamos com o NAVI enquanto projeto, produzindo, participando de editais. Em 2018 realizamos o NAVI nas comunidades, projeto ganhou o edital da Algás  e com ele levamos oficinas de cinema para 06 comunidades rurais de Arapiraca, com filmes como produto final, 02 deles foram selecionados para a 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Estamos disputando o edital de Arapiraca para formação, enquanto projeto esse é o principal foco do NAVI, e é assim que pretendemos continuar com o projeto, com ações de formação e produção de filmes que surjam desses processos.

RD: As atividades de formação/fomento ao Audiovisual em Arapiraca não se atém apenas aos moradores deste município, mas de outros próximos a ele. Como você vê a importância da descentralização dessas ações e suas demandas?

WG: É fundamental a descentralização. O cinema ainda é visto como algo glamouroso, um lugar que a maioria das pessoas tem dificuldade e insegurança de acessar, apesar de todas as facilidades que as novas tecnologias trouxeram. As atividades de formação que desenvolvemos com o NAVI e os cursos e oficinas realizados pelo SESC em Arapiraca têm ajudado a oferecer às pessoas aqui do interior, ferramentas técnicas de realização audiovisual, abrindo a cabeça para as possibilidades de produção.

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Formado em gestão pública com especialização em modelagem e gestão de projetos culturais, Wagno Godez é produtor cultural e realizador audiovisual. Iniciou no audiovisual em 2014, como diretor tem 2 filmes de curta-metragem, Povoado (ficção, 2016) e Besta-fera (ficção, 2019), como produtor executivo fez Avalanche (curta ficção 2017), de Leandro Alves; foi co-diretor no curta-metragem Raiar (doc 2019) de Wellima Kelly, filme que está em pós-produção; e atualmente está fazendo a produção executiva do telefilme Moto-perpétuo, também de Leandro Alves.

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