Texto: Érika Santos. Revisão: Leonardo Amaral
À margem: relatos de um cartão-postal
Se pudesse, aqui, descrever brevemente os sentidos que destacam o curta-metragem À margem (2020), apostaria em duas palavras: deslocamento e fotografia. A percepção imagética em consonância ao recorte social trazidos no filme desperta grandes expectativas. Destaco, porém, que o desenrolar da narrativa deixa a desejar em alguns aspectos. À margem nos convida a um tour pelo lado invisibilizado do cotidiano arapiraquense, na tentativa de priorizar o drama vivido pelos pescadores e moradores da periferia, localizada às margens do Lago Perucaba. No entanto, o recorte social perde espaço para a estética.
O lado técnico exagerado transforma revolta em contemplação. É nesse sentido que ficamos à deriva da narrativa. Os elementos que compõem o espaço: o diálogo sobre abandono, o sofrimento expresso no rosto dos pescadores, gritam por um enredo que desperte rebeldia entre os que assistem ao filme. Porém, a luta dos moradores perde protagonismo e dá lugar a um mero cartão-postal.
O que falta em À margem é o desenvolvimento do pensamento crítico que encontramos em À espera de um milagre: relatos de sonhos perdidos de frente para a lagoa (2020), filme também exibido na Mostra Sururu de Cinema Alagoano, na categoria Filmes do Fim do Mundo, no qual a diretora Géssika Costa junto a Vitor Beltrão constroem, de fato, uma narrativa que foca na luta dos moradores da Lagoa Mundaú (Maceió – AL) e seus enfrentamentos, através de imagem e discurso, sem abusar de artifícios técnicos.
A potência crítica do curta À margem entra em declínio no instante em que sua estética constrói uma linguagem própria e independente da crítica social, e isso se dá quando a fotografia focaliza o pôr do sol ao horizonte, quando o jogar da rede do pescador quase nos remete a uma canção de Dorival Caymmi; provocando um apagamento ao discurso proposto pelo curta. À margem desloca a própria margem para falar sobre como fazer um filme com bons enquadramentos e boa fotografia.
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