Crítica: Memórias por um fio (dir. Ivana Iza e Thiago Laion)

Texto: Katarina Mendes Batista. Revisão: Chico Torres.

O documentário mostra a nostalgia e orgulho de antigos funcionários de uma das maiores fábricas têxteis dos anos 1970 no Brasil, a Fábrica da Saúde. Os entrevistados falam dos benefícios que a fábrica lhes proporcionou e o desejo de terem passado para as próximas gerações o que viveram ali, pois a empresa dava essa possibilidade ao fornecer educação aos seus filhos, passando a ideia de que ela pretendia educar os futuros trabalhadores da empresa. 

Diante dos comentários dos ex-trabalhadores, percebe-se que mesmo havendo bastante respeito ao comentarem sobre o dono da Fábrica, João Nogueira, é mencionado sobre a exigência de manter a conservação do complexo e que isso era feito pelo próprio Aloísio, que passava de casa em casa. No caso de serem penalizados pela falta de preservação da fábrica, os funcionários entendiam que era merecido passar por tais punições. O filme não explora de forma aprofundada que tipo de punições seriam essas ou como que os trabalhadores se sentiam com essas cobranças na porta de suas casas. Sente-se que esse tema foi apenas pincelado e rapidamente enfatizado que, apesar de tudo isso, ali eles eram felizes dentro dessas condições.

Vale ressaltar que a memorização da história do que ocorreu na fábrica da saúde é válida, contudo, romantizar a história feliz dos moradores da Saúde seria vender a ideia que de a empresa era boa e que, mesmo após terem deixado aquele povoado em descaso, ela continua sendo.

Outra curiosidade é que mesmo com a retirada da fábrica e com o atual estado de degradação do local, nenhum entrevistado se queixa do abandono e da falta de assistência ao povoado. Fica a dúvida do porquê que não foi abordado aos entrevistados perguntas sobre a atual situação do povoado da Saúde, considerando sua situação de abandono e de isolamento do resto da capital alagoana. 

Também chama à atenção um dos entrevistados que, durante seu depoimento, percorre com um carretel de linha os resquícios da fábrica, como se estivesse brincando com uma pipa que ainda não alcançou seu ponto mais alto. Mas que ponto seria esse? O povoado já passou pelo seu ponto mais alto?  Entende-se que a busca por esse ponto seria a compra do terreno pela EMBRAPA, dando a ideia de que aquele local só pode ser salvo por uma empresa privada e que essas pessoas só melhorariam suas vidas se dependessem disso.

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