Alagoas é cortado da Mostra Sesc de Cinema

Texto: Karina Liliane. Revisão: Larissa Lisboa

Após 3 anos com forte participação do estado na Mostra Sesc de Cinema, em 2021 os diretores alagoanos não terão nem a chance de inscrever seus filmes.

A Mostra Sesc de Cinema é um projeto que teve sua primeira edição em 2017 criado pelo Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (SESC) com o intuito de promover a difusão da produção nacional independente por meio da exibição, circulação e licenciamento de filmes. Dividido em três Panoramas (Estadual, Brasil e Infantojuvenil) os filmes, de todas as durações, dos 26 estados brasileiros e do distrito federal puderam participar da mostra através de inscrição e posterior seleção por meio de comissão formada pelas unidades regionais.

Ao longo dos anos o número de filmes selecionados em Alagoas cresceu de 12 para 26. Todos os filmes selecionados para a etapa local além de concorrer a uma das vagas de licenciamento estadual e/ou nacional, também poderiam receber um certificado de destaque em alguma das seguintes áreas: direção, direção de arte, desenho de som, roteiro, direção e atores, direção de fotografia e montagem.

Na primeira edição realizada (2017) a diretora Laís Araújo foi a única mulher a assinar a direção de um dos cinco filmes alagoanos licenciados, recebendo também o certificado de Destaque de Montagem por Cidade Líquida.

Segundo a diretora Laís Araújo, mostras e festivais são lugares muito importantes para quem está produzindo, pois é um dos momentos em que o trabalho é reconhecido. “Todo mundo fica feliz quando um filme que você fez começa a rodar e ter um filme que roda o estado através de uma mostra faz com que ele saia desse nicho de festivais que ficam mais locados na capital que é muito importante porque ninguém faz filme pra ficar guardado”, salienta.

Sobre receber o certificado de Destaque de Montagem ela diz: “é muito legal ter o trabalho reconhecido por festivais e mostras. E toda vez que você é reconhecido por alguma coisa, você acaba tendo um gás para continuar produzindo. Então eu levo esse tipo de situação, de receber um certificado ou um prêmio como isso, como tipo estou indo em uma direção que naquele momento fez sentido para aquele júri e é sempre bom”.

Nesta edição, nenhum filme alagoano foi selecionado para a etapa nacional da Mostra. Já nas duas edições seguintes (2018 e 2019) a Mostra Sesc de Cinema contou com representantes alagoanos em sua etapa nacional. Foram eles, respectivamente, Os Desejos de Miriam (dir. Nuno Balducci) e Tipoia (dir. Paulo Silver).

“O licenciamento nacional pela Mostra Sesc era um dos mais sonhados pelos realizadores, pois o filme além de circular pelo Sesc do Brasil todo, chegando a um público maior do que a carreira da maioria dos curtas em festivais, ainda recebíamos por isso, o que era um grande reconhecimento pelo trabalho de um realizador. O meu curta foi exibido em praticamente todos os estados da federação, o que na carreira dele em festivais não havia acontecido. Posso dizer que foi um marco na carreira do filme e na minha”, compartilha o diretor Nuno Balducci.

Em sua terceira edição, além do foco na difusão das produções brasileiras independentes, a mostra lançou luz para as ações formativas como forma de incentivar a troca e o encontro entre aqueles que já fazem parte da cadeia produtiva no estado e os que desejam fazer parte e estão em busca de formação.

Assim a unidade regional de Alagoas por meio da Coordenação de Cultura ofertou de forma gratuita os cursos Mise-en-scéne, ministrado por Nuno Balducci e Exercícios de Montagem ministrado por Paulo Silver.

Para o diretor Paulo Silver, “ministrar esse curso foi a oportunidade que tive de sistematizar e entender o esquema de como eu trabalho e conseguir entender o meu processo enquanto eu estava preparando o curso. E aí levar para quem fez o curso as estratégias, os esquemas das saídas, o fluxo de trabalho que eu tenho. Acho que dividir isso foi muito importante pra mim porque eu pude sistematizar a minha lógica de trabalho enquanto montador”.

Além disso, ele afirma que momentos de discussão como esse são importantes lugares para compartilhamento de fluxos, esquemas e métodos de trabalho e assim construir um ambiente de troca com pessoas que tenham olhares diversos para a montagem.

É assim que em 2021 toda a cadeia produtiva do audiovisual em Alagoas segue surpresa com a ausência do estado no regulamento e na ficha de inscrição da 4ª edição da Mostra Sesc de Cinema, o que significa que nenhum filme de pessoa residente em Alagoas poderá se inscrever.

“Acho um descaso do Sesc não apenas com relação à produção audiovisual alagoana, mas, descaso também para com a própria história da instituição, que por anos foi uma peça importante para a formação de público, formação de cineastas, divulgação da produção local. É algo que me parece um ato de sabotagem cultural e um ato de recusa da própria história. É lamentável. É muito lamentável”, afirma o diretor Nilton Resende.

O diretor Nuno Balducci complementa: “Não tê-lo vai gerar uma falta grande, pois era uma possibilidade importantíssima do realizador poder exibir o filme em vários estados para diferentes públicos e ainda ser pago por isso. Lamento muito que os próximos projetos meus não terão mais a Mostra Sesc para exibi-los pois era estratégico o filme ser inscrito na Mostra Sesc após circular em outros festivais.”

Importante frisar que a participação de filmes alagoanos em mostras e festivais nacionais e internacionais e o reconhecimento artístico e técnico das produções por meio de prêmios cresce exponencialmente ao longo dos últimos anos.

Alguns exemplos disso são a seleção de quatro filmes (três curtas e um longa) para uma mesma edição da Mostra Tiradentes em 2020, a seleção do filme Trincheira (dir. Paulo Silver) para o 48º Festival de Cinema de Gramado, e os mais de 25 prêmios nacionais e internacionais recebidos pelo filme A Barca (dir. Nilton Resende).

No dia 01 de junho de 2021 o Fórum Setorial do Audiovisual enviou uma carta ao SESC Alagoas buscando o diálogo e esclarecimentos sobre a condição aqui tratada, mas até o momento desta publicação ainda não havia recebido nenhuma resposta oficial.

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