Corpo D’água: entrevista

Em 2018 foi realizada a nona edição do Ateliê Sesc de Cinema tendo como temática do bairro da Levada, entre abril e novembro os alunos e alunas tiveram encontros semanais no Sesc Centro que os estimularam a construir o roteiro do filme que expressasse a visão deles sobre o que escolheram abordar a partir do bairro proposto. Coletivamente eles dirigiram, produziram, filmaram e montaram Corpo D’água. Seis dos nove diretores contam um pouco sobre o processo do filme na entrevista abaixo.

Após circular pela 8ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental – Concurso Curta Ecofalante (SP), 13º Festival Visões Periféricas – Mostra Eles não vão nos calar (RJ) e o Circuito Penedo de Cinema 2019 – Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental, Corpo D’água foi exibido na 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano. Temos prazer em informar que o filme está disponível no canal do Youtube do Ateliê Sesc de Cinema.

Deixamos também o convite para ler as críticas sobre Corpo D’água escritas por Franklin Lessa e Paulo Vieira, participantes do Laboratório de Crítica realizado pelo Mirante Cineclube em parceria com a 10ª Mostra Sururu.

Alagoar: Como ficou sabendo do Ateliê Sesc de Cinema?

Camila Moranelo: Eu sempre ia pra estréia dos curtas que o Ateliê produzia, porém, nunca sabia quando abriam novas turmas, daí uma amiga fez a edição antes da minha e me avisou quando abriu inscrições para a turma que eu participei.

Isadora Padilha: Antes de participar do Ateliê em 2018 eu já tinha ido a várias exibições do Ateliê SESC de Cinema e cutuquei para que houvesse uma edição sobre o bairro da Levada, onde eu moro, faço parte de uma ONG e sobre o qual fiz o meu mestrado. Assim que saiu a edição de 2018 sobre a Levada vários amigos, que já tinham feito o Ateliê, vieram me falar e eu não pensei duas vezes quando decidi me inscrever.

Marina Bonifácio: Soube por uma amiga que já tinha participado da edição de 2016, aí fiquei interessado e me inscrevi em 2018.

Marcella Farias: Fiquei sabendo do Ateliê Sesc de Cinema enquanto fazia o curso Diálogos entre a fotografia e o cinema ministrado por Rita Moura em 2017. Durante uma das aulas o curso foi mencionado e no início de 2018 fiz minha inscrição.

Maykson Douglas: Tenho amigos que já haviam participado e que me sugeriram participar das aulas do projeto. Frente a isso, vi nas redes sociais que as inscrições estavam abertas e resolvi me inscrever.

Alagoar: Como foi participar da nona edição do projeto?

CM: Eu havia feito faculdade de Jornalismo e algumas oficinas de Produção Audiovisual, mas nada com tanto tempo e certa profundidade como o Ateliê, e pra mim isso foi riquíssimo. Poder desenvolver um projeto que levasse meu nome como produtora era incrível, era a experiência que eu queria ter vivido na faculdade e vivi muito superficialmente. Além de ter conhecido gente muito talentosa que me fez enxergar melhor e admirar ainda mais essa área e esses profissionais e futuros profissionais.

IP: Foi um sonho realizado! Eu sempre quis fazer um documentário sobre a Levada, por amar aquele lugar, e ter conseguido fazer parte dessa elaboração, conseguir contribuir com essa construção, com ideias, pesquisa, ir a campo, foi verdadeiramente incrível! Ao longo do caminho me encontrei muito na elaboração de roteiro e isso me deixou com bastante vontade de fazer mais coisas sobre a região lagunar, sobre memória e identidade, que é o que eu quero como minhas metas de vida. E ainda houve vários outros ganhos nesse processo que só me deixaram mais feliz.

MB: Foi o que me levou a acordar para a possibilidade de realização do cinema aqui em Alagoas. Por meio dos módulos, a experiência nos introduz ao audiovisual de uma forma muito humana e democratizada, que provoca um novo olhar para a nossa cidade e o espaço em que nós vivemos, onde eu pude me reconhecer e ter impulso pra procurar, encontrar e viver o cinema pela primeira vez.

MF: Foi uma experiência rica demais. O Ateliê é um projeto transformador e sou muito grata por ter tido a oportunidade de participar. Antes de tudo, o Ateliê me convidou a conhecer minha própria cidade, e dentro dela, conhecer pessoas diferentes e suas histórias. Aprendi muito sobre nosso cinema com a equipe maravilhosa de instrutoras, não só com o conteúdo didático das aulas em cada módulo mas também com as conversas durante as aulas, quando elas contavam histórias honestas sobre suas próprias experiências. Aprendi como funciona o processo de criação e produção de filmes e entendi na prática que cinema alagoano é feito de união e coletividade.

MD: Foi um processo bastante enriquecedor e cheio de aprendizagem. Durante os meses de Ateliê pude compreender diversas questões ligadas às rotinas produtivas do audiovisual, ao passo que estive com pessoas que já atuam na cena alagoana.

Alagoar:  Como foi o processo de realização de “Corpo D’água”?

CM: Cansativo e intenso. Vivemos nove meses de muita correria, sem saber se o que estávamos planejando daria certo, que de fato nem tudo deu certo. Tivemos erros com relação ao tempo da montagem, que nos atrasaram bastante, mas nos ensinaram também. Acredito que toda experiência é válida quando a gente sabe tirar proveito dela. E foi exatamente assim com Corpo D’água. Experiência de ouvir histórias distantes da minha e ter um contato tão próximo e tão sincero com algo que é nosso e muita gente sequer valoriza, que é a lagoa. Enfim! Corpo D’água foi muito especial pra mim e acredito que pra equipe inteira. Do início ao fim soubemos ouvir uns aos outros e trabalharmos juntos, unidos, com a única intenção de fazer um projeto que retratasse nossa verdade e a verdade tão urgente daquele lugar.

IP: O processo foi bastante intenso e ao mesmo tempo com um ritmo que às vezes era meio desconcertante. Acho que como coletivo nós construímos algo muito sólido e justamente por isso demorávamos a maturar as fases. As coisas ora fluíam muito bem, ora empacavam, ora tinham uma lentidão desesperadora… Eu não participei de outros ateliês em outros anos, então talvez seja assim mesmo pra todo mundo, quando se está no início. Mas aprender a criar já criando acabou sendo algo muito recompensador, especialmente quando se alcançava uma proposta definida pelo grupo.

Italo Rodrigue: Corpo D’água surgiu das nossas inquietações, reflexo de uma visita ao bairro da Levada, Maceió-Alagoas e desde então pensamos num roteiro que propusesse dois momentos: o primeiro, refletir na tela o processo de aprendizado da equipe, em usar de uma linguagem (proposta, sobretudo, por nossas incríveis monitoras) cinematográfica, intensão primeira do curso. Segundo, o olhar da equipe e do indivíduo atuante no processo, para o entorno, nossa comunidade, nossos vizinhos e a nossa cidade. Embora Corpo D’água seja específico em retratar um cenário de favela, poluição, degradação do meio ambiente, ele também fala de gente, de pessoas e dos espaços que são habitados por elas. Ter me envolvido com as filmagens e o processo de edição me deixou, não somente consciente desse reflexo, mas também motivado a querer questionar qualquer tema através do processo árduo e incrível que é fazer cinema.

MB: Foi uma realização coletiva que nos colocava sempre dentro de discussões longas sobre a história do bairro da Levada, que, pessoalmente, eu não conhecia quase nada sobre e acabei me apaixonando pelas diversas narrativas que aquele lugar nos proporcionou, de forma que foi um desafio definir o caminho que queríamos e iríamos contar. Nas filmagens, foram momentos bem surreais, de planejamentos que não deram certo, mas de surpresas que agregaram muito mais aos nossos anseios. Rolaram muitas lágrimas e momentos marcantes, que acabaram deixando um certo tipo de angústia na hora em que era necessário exercitar o desapego em prol do resultado final. Mas, é um filme pelo qual tenho muito afeto e, definitivamente, sou muito grato em ter participado da construção dele.

MF: Corpo D’água nasceu da visita que fizemos ao bairro da Levada logo nos primeiros dias do Ateliê. Ao final do dia, cada aluno compartilhou aquilo que mais chamou sua atenção durante a caminhada e a partir daí ideias foram surgindo. Após muitos dias de conversas e discussões, a lagoa Mundaú ganhou uma voz e exerceu o direito de contar sua própria história, e ao longo dos módulos novos recursos e ideias foram adicionados ao roteiro. O bairro e a lagoa se tornaram cada vez mais presentes na vida da equipe através de pesquisas e buscas por personagens nas ruas da Levada, mas os laços com Corpo D’água se estreitaram muito mais durante as gravações onde pude estar na vida do bairro. Dar uma volta na Mundaú dentro de um barco com Seu Ernandes; ouvir Vera falar, ás margens da lagoa, sobre sua vivência e sentir a energia da população no Mundaú Lagoa Aberta. Apesar de todos os pontos negativos em relação ao bairro que tivemos conhecimento durante as visitas, Corpo D’água é conscientemente contemplativo e esperançoso, e posso dizer que o sentimento que fica da equipe para com o filme também é.

MD: Incrível. Desde o momento que tivemos que sentar para definir as linhas que abordaríamos no filme, ao processo de articular e ouvir cada um dos entrevistados, tudo foi muito enriquecedor. Ao fim de todo processo ainda de conseguir me enxergar no resultado final e me sentir feliz por ter sido parte, é uma experiência de muita valia para a minha trajetória. Vida longa ao Ateliê Sesc de Cinema.

Sobre Larissa Lisboa
É coidealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. Pesquisadora, artista visual, diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, mediação de exibições de filmes e em ministrar oficinas em audiovisual e curadoria. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 à 2020). Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Possui graduação em Jornalismo (UFAL) e especialização em Tecnologias Web para negócios (CESMAC).

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