Cobertura: 11ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 1º dia

Texto: Roseane Monteiro. Revisão: Fabbio Cassiano e Larissa Lisboa. Imagem: Divulgação.

A Mostra Sururu é a mais charmosa da cidade e está sendo realizada de maneira remota, por isso, perdemos os encontros entre as sessões, as conversas sobre os filmes, o cheiro da pipoca impregnado no Hall do Cine Arte Pajuçara que o Badu estaria preparando. Os abraços afetuosos, a aglomeração entre corredores, a busca por canetas para marcar a cédula de votação do júri popular. E se você estivesse se sentido claustrofóbico era só sair do fuzuê e contemplar o mar que estava bem ali.

Enfim, 2020 já pede passagem, já está indo… E a esperança está próxima. Assim como, em tom de esperança, vamos aquecer o coração assistindo filmes de alagoanos e de residentes nas terras do “enxuto e do molhado” parafraseando o mestre Dirceu Lindoso.

Nessa edição indoor, estou assistindo os filmes de maneira sequencial.

Programação Oficial

À espera de um milagre: relatos de sonhos perdidos de frente para a lagoa. Dir. Géssika Costa e Vitor Beltrão. Doc. 5min59sg.

A cidade de Maceió tem práticas operacionais de expulsão de moradores, vide os acontecimentos de 2015 com a expulsão da comunidade à beira-mar do Jaraguá, para criar um centro pesqueiro para turista ver. À espera de um milagre, vai documentar as próximas alterações da cidade que visa a orla lagunar. Por meio de cortes bruscos e depoimentos que expõem em sua maioria a visão dos moradores sobre as arbitrariedades do poder público sobre os pobres. O filme é seco, é uma paulada, entretanto, os diretores escutam, mostram a indignação e os modos precários de viver dessas comunidades nas margens da laguna Mundaú. O filme não tem a linguagem técnica como primordial, mas, exibe a força e o poder da narrativa crua. Principalmente porque o lado esquecido da cidade continua sendo esquecido, e são obras que privilegiam os turistas e até mesmo os carros, menos quem de fato mora na cidade.

À sombra do vírus. Dir. Fabinho Oliveira. Fic. (Suspense), 8mi54seg.

O filme vai exibir os medos de um homem branco de classe média na quarentena: o cotidiano alterado, o uso da máscara, a solidão e o home office. Esses foram os elementos de quase 9 meses de quarentena para algumas pessoas, menos para aquelas que pegam os ônibus lotados e continuam se expondo ao vírus, como por exemplo, o entregador que aparece no filme. A ficção tece a narrativa em uma zona de conforto, tudo é muito limpo, bem organizado, fazendo uso de planos detalhes e de close up, trazendo uma dose de assepsia. Contudo, houve a falta do desequilíbrio nos planos ou nas ações do personagem que poderia ajudar a mostrar os distúrbios, a angústia desencadeada pelo medo da morte eminente.

A três andares. Dir. Bruca Teixeira. Doc-Fic. 6min56seg. (Imagem em destaque)

A partir de três camadas o filme se desenvolve primeiro, como se fosse um grande plano geral, pois identificamos o local onde a protagonista mora em meio uma grande desigualdade social e enfrentando a pandemia da Covid-19, por meio da montagem que identifica os dois lados de viver no “paraíso das águas”. Por seguinte, o filme nos mostra em uma segunda camada, a protagonista em meio ao isolamento social para fugir do ócio busca por teorias conspiratórias que recebemos no grupo do WhatsApp. Há uma aproximação do universo da personagem, sua forma de lidar com o tédio, tendo uma percepção de plano médio. E no último ato do filme temos uma camada do close up, que procura compartilhar a intimidade da protagonista, que no momento de solidão decide se reconciliar com a sua ex. O filme perpassa bem pelas diversas camadas que se propõe a partir de uma montagem intuitiva. Esse filme poderia gerar três produtos audiovisuais diferentes se assim a autora quisesse.

Agridoce. Dir. Gessyca Geyza e Nereu Ventura. Exp. 3min05seg.

Agridoce expõe o papel da arte na vida das pessoas principalmente nesse momento difícil, a arte estava lá, para refletir ou nos ajudar abstrair dos problemas. Por isso o filme mostra esse momento de vulnerabilidade da sociedade. E pensar no teatro, que é tão sinérgico é catártico, como continuar nesse contexto? Porque tanto atores quanto a plateia estão sem rumo. O filme mostra o cotidiano da protagonista, também seus anseios e medos por meio de sua narração. Agridoce explora a casa e a atriz em cena como protagonista, torna-se um registro documental pandêmico do século XXI de como a arte está nos salvando.

Bem no fundo das retinas. Dir. Mik Moreira. Doc. 13min26seg.

O documentário vai buscar no testemunho um elo entre o passado e o presente através da raiz de um oficio de família que continua vivo. Dessa maneira, o filme através da escala de cinza aborda a fotofilia que está impregnado na retina tanto de Mik Moreira quanto de Laércio Luiz de Amorim. Por meio de seu Laércio o filme compartilha as memórias ora precisas, ora imprecisas, com respiros ou com atropelos, mas com a plasticidade e o cuidado com a criação dos planos. Bem no fundo das retinas assume a dualidade de geração, dos tempos, das câmeras que se fundem para produzir o memento.

Círculos. Dir. Lucas Litrento. Exp. 2min15seg.

Círculos usa da pluralidade das linguagens, é filme, é poema, é tudo e mais um pouco. Lucas Litrento faz uso de metáforas e de matérias de site para dar a letra, direta, objetiva. A população negra está em looping, em um círculo perverso e violento desde da diáspora. A luta é contra essa banalização do mal que aprisiona o corpo e a alma preta.

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