Cobertura: Você nos Queima (dir. Caetano Gotardo)

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

Mostra Olhos Livres | 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes  – 26/01

A carga da repetição – Você nos Queima, de Caetano Gotardo (SP)

Em Você nos Queima, longa metragem com direção de Caetano Gotardo (Seus Ossos e Seus Olhos – 2019), temos a repetição como método de insistência, algo para manter a atenção ou para que busquemos algo de novo na mesma imagem? O olhar a se acostumar ou, assim como o realizador, tentar algo novo em cada movimento? O filme foi realizado entre dezembro de 2018 e junho de 2021, e filmado com um celular. 

Acostumar o olhar – a falta de imagem, apenas uma voz, calma e leve, a história se inicia, e vamos criando a imagem em nossas cabeças, formamos o início de algo, que antecede ao que iremos presenciar em cena. A tela escura dá lugar às imagens de fotografias, a natureza, pedras, água, folhas e a narração a continuar, a fala vagarosa dá lugar à rapidez e o mesmo ocorre com as imagens da tela.

Nos filmes de Gotardo temos o corpo, os seres, seus sentimentos e a dança e isso não se perde em Você nos Queima, está presente ali também. A apresentação cênica –  um homem em movimento e a sensação de solidão explode em cena, com forte presença musical –  artistas diversos, instrumentos múltiplos, o longa tem em sua trilha sonora artistas como Ava Rocha e Lucas Sandoval.

As poesias, tanto de Sapho quanto de Lucrécio, permeiam todo o filme, enquanto as imagens do metrô de São Paulo nos são mostradas. Da natureza para o concreto, e de volta aos corpos, algo que nos parece um estudo de movimentos, de vestes, gestos, personagens sem rostos, seres transitórios cujos pés e suas coreografias são algo que temos como identificação, a câmera segue as mãos, mais gestos, gesticulações, demonstrações de afeto, toques, e mais uma vez a dança retorna. 

Assim como Krzysztof Kie?lowski em seus filmes A Dupla Vida De Veronique (1991) e A Liberdade É Azul (1993) ao utilizar elementos poéticos compondo suas tramas e dando assim a carga sensível que há nessas obras, Gotardo utiliza tais recursos como papel importante para ilustrar esses seres, a ação, o tempo e o local. 

O simbolismo da obra Você nos Queima, além das imagens e das poesias, está na coreografia dessas personas filmadas em momentos do cotidiano, e isso é o que interessa ao realizador, como numa caixa cênica, o estudo do corpo para saber até que ponto ele suporta a permanência de determinado movimento, “repetir repetir – até ficar diferente”

Acompanhe a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes on-line pelo site.

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