Crítica: A gente foi feliz aqui (dir. Renata Baracho e Paulo Accioly)

Texto: Macio Amaral. Revisão: Chico Torres e Larissa Lisboa.

Na pretensão de eternizar a memória das dezenas de famílias que perderam seus lares no bairro Pinheiro, em Maceió, após o afundamento do solo causado pela extração de sal-gema na região, um jovem universitário morador do bairro teve a ideia de colar fotografias nos muros das casas abandonadas. O projeto se tornou filme em “A gente foi feliz aqui” aqui, que mescla o making of das atividades a depoimentos de moradores.

A situação do bairro já foi contada de diversas formas em jornais, televisão e no próprio audiovisual. O filme de Renata Baracho e Paulo Accioly é mais uma delas, e traz um tom diverso ao unir o olhar metalinguístico com depoimentos estáticos. É um casamento feliz entre os bastidores do projeto em andamento com as falas de moradores.

O relato de quem viveu a “realocação” obrigatória e teve toda a sua vida modificada à força é indignante. O enquadramento das imagens, em muitos trechos com personagens olhando para o vazio e em tons escuros e acinzentados, reforça o sentido de desolamento que assombra as ruas do Pinheiro e complementa as cenas de desolamento.

O filme traz a importância do lar, que tanto carrega história, gerações e vivências, além das consequências de perdê-lo para uma tragédia anunciada, afinal, já se falava desde os anos 1980 que a exploração da região poderia trazer graves consequências. A presença de fotografias é o ponto-chave, que provoca reflexões sobre como o congelamento das memórias traz sentimentos tão diversos. Raiva, saudade e felicidade, como bem pontua uma das personagens.

Se para Susan Sontag, “tudo existe para terminar numa foto”, o filme de 2021 e tudo o que ele aborda é uma representação bem que verídica da frase, ainda que lamentável.

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