Crítica: AutistaArtista (dir. Maria Clara Lacerdas Dantas)

Autora: Isabela Sales de Magalhães. Revisão: Tatiana Magalhães.

Café com lítio

Desenhos, tintas, bagunças, caixas de remédios, tudo isso junto de um rosto cansado e triste. Assim, somos introduzidos no recorte de vida da Maria Clara. Através de suas próprias lentes sensíveis, somos imersos no seu ambiente seguro – sua casa – e com sua narração, somos conduzidos a sentir e entender as dores, dificuldade e rotina de uma autista em estado de depressão.

Se perder de si, no mundo, é um pesar para uma pessoa que vê a socialização como um veneno: em poucas doses, suportável; mas demais, é nocivo. Se ver, se entender, estar presente consigo é a cura e ao mesmo tempo o início de um caos: como se manter em harmonia com limitações que a colocam à prova de suas capacidades?. Em meio às suas coisas, seus filmes, livros e músicas é que a paz se faz presente. Um comportamento comum a pessoas introspectivas, mas diante do abismo da depressão isso se torna confuso, entre refúgio e fuga. Como fazer para ter uma vida de paz quando é necessário tanto esforço todo dia para viver em sociedade?

Entendo eu que as condições externas e internas de um ser trazem repertório para uma mente criativa, que facilmente anda ao lado da fertilidade artística. Clara encontrou nesse lugar uma forma de entender e se reconhecer nesse mundo. A dor de uma alma que sofre é pesada e solitária. Imergir em sua narrativa é conseguir se aproximar um pouco do seu mundo.

Em meio à ligações ao cvv, medos, xícaras de café e reflexões, ela vai encontrando sua cura, se reconhecendo em sua beleza e resiliência. AutistaArtista é um emocionante lembrete para que aprendamos a olhar nossas imensidões e se perdoar por cada processo para que vivamos da melhor forma que seria possível no momento. E matar a barata que só você pode matar, sempre.

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