Crítica: O Branco da Raiz (dir. Anderson Barbosa)

Texto: Paulo Vieira. Revisão: Chico Torres e Larissa Lisboa.

O gosto da farinha

A mandioca, há muito tempo, deixou de ser só um alimento, ela foi conhecida pelos “brancos” quando estava sendo utilizada pelos nativos brasileiros; era usada na comida dos escravos por dar “sustança”; além de ser barata e, mais recentemente, se tornou produto essencial na mesa do nordestino.

O Branco da Raiz, filme apresentado na 10ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano, toca diretamente as pessoas que já tiveram ou têm em sua ascendência produtores de farinha artesanal, além de mostrar de forma contemplativa, como descreveram seus realizadores, todo o manuseio da mandioca para os que nunca tiveram essa vivência.

Minha mãe costumava dizer: “A farinha da casa tem um sabor diferente, mais gostoso”. O curta com a fotografia sensível e em preto e branco de Rita Moura nos leva para o dia a dia de uma família que mantém uma produção artesanal de farinha em Arapiraca, município alagoano. Durante seus 23 minutos, o curta possui quase nenhum diálogo e os sons captados não são colocados em evidência; a sensação de silêncio junto à trilha sonora executada no  piano implora que o espectador tenha paciência, para que a experiência que vai do plantio até o momento de assar a goma seja imersiva.

Não devemos nos enganar com a falsa mudez da trama, pois a todo momento os cortes de estaca, passos nas folhas mortas, o fogo trepidando ou um suspiro nos fornecem conteúdo para entender o porquê de não se falar nada.

Perguntei aos realizadores se durante a produção não teriam detalhes demais sobre a produção de farinha. Para quem tem esses momentos na memória se sabe a importância da espera, mas será que quem vê pela primeira vez conseguirá ver isso? A resposta foi que eles acompanharam o plantio, a chuva chegar e até a colheita, que é um processo demorado, e isso precisava ser retratado na tela, pois cada momento desse processo é importante.

A verdade é que a obra nos prende do começo ao fim e, querendo ou não, se sai da sala de cinema querendo saber como é o gosto da farinha.

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