Crítica: Nós duas (dir. Wéllima Kelly e Leandro Alves)

Texto: Edilma Gomes. Revisão: Tati Magalhães

Duas vidas 

O documentário “Nós duas” de 2023 expõe a vida de uma idosa no interior alagoano. A personagem principal, dona Creuza, é exibida inicialmente sozinha, sentada na porta de casa, porém ao fundo, há a presença distante da mãe, deitada na cama. Nunca foram só os desejos dela, sempre existia a demanda do outro. Como ela mesma conta, não teve infância, “depois  que casei acabou-se tudo”. Vivendo em uma época em que não existia espaço para escolhas pessoais,  a sua vontade era subjugada pelo patriarcado. O papel de cuidar dos filhos, do marido e dos mais velhos era direcionado para a figura feminina.  As mulheres têm essa obrigação perante seus ancestrais? É o instinto materno feminino que direciona? ou simplesmente o condicionamento sócio-cultural que modula essa relação de cuidador?

Na fotografia, imagens do Agreste alagoano com seus contrastes de verde e marrom. O reforço dos sinais na face de dona Creuza, de contentamento e de um passado de tristeza e de entrega. Uma imagem do alto de duas mulheres deitadas  na cama, envolvidas e protegidas por um mosquiteiro que traz a memória de um útero, onde mãe e filha ocupam  o mesmo espaço de construção do ser humano. O receptáculo perfeito onde tudo se inicia: a dor e a alegria que acompanham duas vidas.

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