Crítica: Retratos da nossa cor (dir. Carlos Alberto Barros)

Texto: Matheus Chagas. Revisão: Tati Magalhães.

Com performances intensas de Fênix Zion e José Carlos Topete reinterpretando obras de Mestre Zumba, somos introduzidos a um vídeo de 17 minutos no qual es artistes lançam a questão “Quanto vale a minha obra?”. A narração e a performance nos instigam a desvelar o que há de colonial na arquitetura de Maceió, o que se esconde por detrás do cotidiano de uma cidade que se vale do discurso de que “aqui não há negro”.

Durante todo o projeto audiovisual me senti inquieto, imergindo dentro de uma narrativa de suspeita, de dúvida e desobediência à linguagem colonial da análise da obra de arte, o desrespeito aos monumentos históricos que se colocam como verdades absolutas sobre os corpos negros, propositalmente esquecidos pela história oficial.

Embora tenha elementos que instigam a imaginação, me senti cansado em determinando momento, a narração, à primeira vista questionadora, torna-se repetitiva. Pode ser algo da performance, algo que funcione na performance, que estaria melhor em uma instalação de arte, mas que no cinema me causou uma sensação de monotonia ou até de transe. Sobretudo porque o que me conquista no trabalho são as performances, os figurinos extremamente detalhados que dão vida aos quadros nos corpos des artistes, a contraposição das obras com os corpos de sujeites negres questionando o espaço, perguntando diretamente ao espectador “quanto vale a minha obra?”.

Essa inquietação se perde quando frases coloridas tomam a tela em branco, como se estivéssemos assistindo a uma apresentação de powerpoint. O potencial subversivo construído pelas imagens de Topete e Fênix performando e declamando se esvai, o texto que exclama “Viva Mestre Zumba” tira a potência das imagens que já gritavam isso a todo instante.

Retratos da Nossa Cor é uma performance instigante que funcionaria melhor na cidade, em um espaço aberto, com a pergunta sendo declamada para que todos nas ruas pudessem ouvir, dentro do cinema não funciona como um filme de fato e soterra o potencial político do projeto.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*