Crítica: O Canto (dir. Izabella Vitório e Isadora Magalhães)

Texto: Vitória Romeiro. Revisão: Tati Magalhães

O ‘’blues’’ da resistência

A maior ferramenta de O Canto é a tradição de sua riqueza cultural. É nela que imergimos no mundo da mestra Rosália Gomes, que será nossa guia dentro da poesia do cotidiano das destaladeiras de fumo de Arapiraca. A medida que seguimos Rosália, descobrimos a presença das raízes ancestrais e a vigorosa força que reside nos cantos que florescem da convivência de todas, e que se entrelaçam por meio da cultura do fumo.

Exploramos sua sonoridade, que tem um retratação semelhante a cânticos que embalam a culturalidade passada de geração em geração, transmitindo beleza, mas também a resistência daquela vivência da cultura nordestina da época.

Nessa cultura, muito mais embasada no patriarcado, o homem levava o sustento para dentro de casa. Então, também na roça, sendo copiosamente a figura “mais forte”, ficava com ele o trabalho mais braçal da prática de enrolar o fumo em cordas.

Já as mulheres tinham um papel não menos importante: o trabalho árduo da colheita, arredação dos talos das folhas, para em seguida, serem postas em molhos e transformadas finalmente em rolo.

Desta forma, somos envolvidos pelas melodias que trazem um acalanto para as que cantam em meio a esse tipo de ambiente, ora triste, ora alegre, pela força do querer que as músicas acabavam por ecoar dentro dos salões e armazéns repletos da planta e de mulheres ao redor.

Logo, sentimos que é uma celebração da riqueza cultural e da resiliência dessas mulheres, que resistem por meio do canto e que cantam para resistir!

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