Crítica: O Retirante (dir. Tarcísio Ferreira)

Texto: Macio Amaral. Revisão: Larissa Lisboa

Jonhson Cavalcante foi um menino apaixonado por roupas. Os tecidos, as formas e as costuras desde cedo abrilhantaram os olhos do morador da zona rural arapiraquense que nem imaginava a possibilidade das vestimentas serem seu ganha pão algum dia. Havia talento e paixão, o que não existia, até então, era perspectiva.

A história contada em O Retirante, de Tarcísio Ferreira, representa bem a de tantas outros nordestinos, pessoas movidas pela esperança que tentaram a sorte indo para o sudeste, principalmente para São Paulo. Como ele bem diz, ainda há quem ache que essa partida será sinônimo de ascensão social e financeira, mas não há nenhuma garantia disso. O caminho é repleto de percalços internos e externos, que tentaram invalidar o talento, sotaque e esperança de Jonhson.

Essa narrativa é contada pelo protagonista, e só por ele, sem trechos de autovalidação ou falas que poderiam pender para a meritocracia. A dimensão do sucesso é construída pelas lentes que mostram o contraponto entre os cenários e a calmaria do interior em paralelo com a velocidade e urgência da grande São Paulo. É uma provocação sobre a necessidade regional em precisar buscar destaque e oportunidades fora de casa quando se quer atuar fora do nicho comum.

A história do menino que teve o final feliz é retratada em cenas que dizem mais do que qualquer discurso. O desfile das peças autorais e construídas a partir das vivências de Jonhson encerra com maestria o filme biográfico. As glamourosas roupas preenchem a passarela numa orquestra de cores texturas que ao final abre alas para seu maestro. É uma vitória vista nas telas, somada às roupas que pendem nos varais do interior arapiraquense no início do curta: faces da realidade do mesmo Jonhson, e que de maneira alguma ele quer desvinculá-las.

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