Crítica: O Saldo da Guerra (dir. Mário Zeymison)

Texto: Marcos Paulo Ventura. Revisão: Tatiana Magalhães.

Sketches e perdas: o saldo de uma guerra em apenas um minuto.

O Saldo da Guerra é um curta-metragem de ficção com uma forte influência da realidade cotidiana e política de nosso país. Isso, pois trata da extrema polarização política e ideológica deste último período eleitoral (as eleições presidenciais de 2018), e seus graves efeitos causados às relações de afeto das pessoas. Portanto, um tema caro para quem viveu e continua a viver no Brasil de agora.

O filme é construído com uma sequência de depoimentos dos personagens em formato de sketch, em que basicamente cada pessoa relata a perda de outra enquanto segura uma fotografia dela. Portanto, o curta tem uma linguagem publicitária, daquelas típicas propagandas de pessoas desaparecidas, e a usa para que os personagens façam seus breves relatos de perda. Há também o uso da fotografia em preto e branco, que acrescenta um tom mais documental e real ao filme, como também constrói um vínculo entre esses personagens e nós, espectadores que assistimos e nos comovemos com tais relatos.

Outro ponto significativo do filme é a duração de apenas um minuto, mas que felizmente consegue causar um forte impacto, pois assim o curta nos vence por nocaute e não por pontos, ou seja, a experiência de assistir ao filme é breve, mas significativa, porque ele nos emociona na medida em que fala sobre essa guerra que infelizmente fez tantas baixas em nossos campos de relações e afetos.

E o mais surpreendente é que o filme acaba sendo um drama cômico, pois todos os depoimentos têm um tom dramático, já que cada pessoa relata a perda de alguém, exceto pelo último depoimento, em que a pessoa fala da perda de sua própria paciência ao mesmo tempo em que segura uma fotografia de si mesma para em seguida amassá-la, jogá-la para trás e ir embora. Assim, este sketch final repentinamente acrescenta um sentido cômico ao filme, e acaba por provocar tanto o riso quanto a reflexão sobre o rumo das nossas relações como vítimas deste forte entrincheiramento político e ideológico.

Portanto, O Saldo da Guerra é um filme bastante crítico e inventivo pelo modo como o diretor, roteirista, fotógrafo e montador, Mário Zeymison, consegue realizar uma obra com a duração de apenas um minuto, mas que ao mesmo tempo reúne elementos da linguagem da ficção e do documentário, e assim, consegue nos emocionar, fazer rir e refletir. Então, é possível dizer que ao menos o cinema alagoano está com o saldo positivo por causa da realização deste filme.

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