Crítica: Trincheira (dir. Paulo Silver)

Texto: Cristiana da Costa Maia. Revisão: Tatiana Magalhães.

A realidade não nos completa. O escritor peruano Mario Vargas Llosa costuma sustentar esse pensamento. A vida real, a vida, na real, não pode ser suficientemente satisfatória. Os anseios dos seres humanos não cabem na aspereza dela.

A trajetória humana parte para a busca de uma compensação dessa condição que sufoca, de querer sonhar até mais do que se pode ter.

É a partir dessa observação que me deparo com Trincheira (curta de ficção dirigido por Paulo Silver), um filme simples, desconcertante, profundo, tudo junto em apenas 14 minutos. Uma criança, lixo, um muro, a solidão acompanhada de seus “brinquedos”, “compras no supermercado”, o “disco voador” de sua imaginação.

Foi impossível para mim não fazer um link com o Sete Minutos Depois da Meia Noite ( J.A. Bayona), que narra a vida de um menino “velho demais pra ser criança e novo demais pra ser um homem”. Este garoto vive não no lixo literal, mas no lixo emocional. E como nosso garoto de Trincheira, o Conor, o menino de Sete Minutos… tem que recorrer à imaginação para lidar com a vida real insuportável.

Quem dera tivéssemos monstros pra nos contar histórias ou fugas pras estrelas quando a dor ameaçasse nos esmagar.

Cada um, a seu modo, vai nos dando lições de como lidar com a dor. Ainda que para isso utilize o campo da fantasia. E justamente aí que está a maior beleza dessas obras.

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