Crítica: Pega-se facção (dir. Thaís Braga)

Texto: Matheus Costa. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

O som quase onipresente da máquina de costura nos introduz ao curta-metragem. Pega-se facção é um filme sobre histórias com uma trilha sonora tão presente na vida destas pessoas. Sua narrativa em primeira pessoa nos apresenta o cotidiano, ora feliz, ora triste, oscilação que compõe o viver, porém neste local, marcado pelos gargalos sociais, o viver é áspero. Por isso costurar é hereditário, uma tradição que se perpetua ao longo de gerações, como uma alternativa aos problemas financeiros e sociais.

As imagens que constituem o documentário nos apresentam uma máquina de costura, desgastada pelo tempo e com um barulho poderoso que busca sobreviver ao baixo valor dado ao seu trabalho. Às vezes 24 horas por dia trabalhando para suprir as exigências dos “padrões”, sem nem um tempinho para descansar. Na terra seca a máquina tem destaque, pois as condições climáticas exaltam o grito do instrumento, feroz e singelo.

As vozes mais experientes nos avisam sobre os males que essa prática causa e as vozes mais novas procuram novas formas de sobreviver ao clima áspero. Uma tradição ameaçada, devido à exploração que sofre. Longas horas ao lado da sua companheira para alimentar-se, pagar contas e levar sustento. O direito ao lazer, ou reduzido, ou inexistente pois a máquina tem um chamado monstruoso, fazendo com que o tempo voe. Tempo este que traz consequências pelo trabalho manual feito durante anos.

   O documentário Pegase Facção nos apresenta uma realidade de forma crítica, sem abrir espaço para nenhum posicionamento ideológico alinhado à meritocracia. Os problemas que estão presentes no cotidiano destas pessoas não permitem romantizações. A máquina de costura é personalizada dentro do curta-metragem, virando uma entidade. Por isso que a trilha sonora é energética, o mesmo grito que nos apresenta o curta-metragem nos dá adeus.

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