Crítica: Queima a Minha Pele (dir. Leonardo Amorim)

Autor: André Aguiar. Revisão: Tati Magalhães

QUEIMA A MINHA PELE 

Um filme epiderme 

 

Cinema é discurso. Mas, sobretudo, cinema é sensação. Discurso sem sensação, não é cinema. Sensação sem discurso é cinema. É o que constitui o Queima minha pele (2022), de Leonardo Amorim, um filme pouco visceral, mas extremamente epiderme. O curta não levanta nenhuma discussão sobre temas sociais, nem posições politicamente corretas, mas provoca emoções, com efeitos no primeiro contato, sem precisar ecoar dentro de nós. Coisa de pele. 

A princípio, a temática parece questionável: masculinidade, homossexualidade. Temas contemporaneamente em voga e de fácil adesão. Uma boa estratégia para um astuto jovem cineasta. No entanto, as bandeiras não são visivelmente hasteadas em nenhum dos 19min de filme, se é que são. 

O que é explicitado no filme são atuações naturalistas, com sotaques insiders, mas sem regionalismo caricato. Uma câmara cuidadosamente bem dirigida filma testosteronas de perto até diluir os estereótipos macho man 

Uma direção de arte refinada, que preserva as sutilezas e dispensa elementos grosseiros. Mesmo se tratando de jovens em uma casa de praia, a direção artística produziu uma verdadeiro finesse 40º, como a presença do abajur cor de vinho tinto em meio a tanto cenoura e bronze 

Uma fotografia tropical contida em planos mais fechados aumenta a intimidade com as personagens e valoriza a característica claustrofóbica do elemento fogo. Ela contrasta com a expansão do elemento ar, que privilegia o set de filmagem, mas que parece ter sido deliberadamente explorado de forma secundária, para não apagar o fogo da tela.  

Um roteiro bem lapidado, preciso na estética minimalista da palavra. Isso, porque, talvez, Leonardo Amorim queira nos dizer que cinema é coisa de pele.  Se disser demais, sente de menos. Por isso, pode-se dizer que Queima a minha pele é um filme epiderme.  

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