Crítica: Saneamento Trágico (dir. Zazo)

Texto: Larissa Vanessa. Revisão: Janderson Felipe.

Não há como negar que Alagoas negligencia suas lagoas. O mar desvia o olhar daquelas que foram a causa nominal do estado, aquelas que eram a grande fórmula inicial de uma identidade alagoana.

Maceió foge das delimitações espaciais do território e torna-se um destino turístico que engloba litorais vizinhos e volta às costas para partes de si. Vira um lugar de turismo de sol e mar, que abarca uma linha litorânea que vai até Maragogi, mas que não olha pra dentro dos seus bairros.

O documentário de Zazo trata de uma temática de extrema importância, o descaso e abandono de bairros que fizeram parte do processo formativo da cidade de Maceió, a Levada é esquecida, entregue a lama e ao caos.

Pensar o que sustenta tantos anos de descaso com a situação é pensar as esferas públicas e governamentais, mas também é refletir que a população de forma mais ampla não pensa nas lagoas, não lembra da Brejal, faz que não vê, não toca no assunto.

O filme feito num tom jornalístico, quase como uma matéria de investigação criminal, trata o tema deixando uma imparcialidade para ações individuais, o curta trata um tema importantíssimo, mas peca em não fazer com que o espectador tome pra si a dor das lagoas.

O descaso tratado no curta precisa ser falado, visibilizado, entendido como um problema coletivo, e para isso uma linguagem visual que não envolvesse uma narração de voz grave e um homem falando com microfone em um fundo estático talvez fosse mais efetiva.

Maceió precisa lembrar-se de olhar para Mundaú e Manguaba, perceber de onde vem o sururu, o filme denuncia o descaso, as lagoas agonizam por seu espaço e reconhecimento de si e de sua grandeza.

1 Comentário em Crítica: Saneamento Trágico (dir. Zazo)

  1. O documentário é navalha na carne, trata de forma crua e objetiva questões complexas compreendidas por poucos, abafadas pela mídia, pelos governos e pela intelectualidade. Somente quem estiver em coma não tomará as dores para si diante das imagens explícitas de degradação da Lagoa Mundaú, fonte de sustento de milhares de famílias.

    A decisão de fazer uso da narração em voz over foi uma maneira de falar o que ninguém se dispôs a expressar em entrevista, garantindo uma continuidade narrativa e principalmente para que as pessoas que moram na Levada/Brejal compreendam as raízes dos problemas que elas vivem (e que eu vivo também).

    Queremos que o filme, e toda a complexidade das questões abordadas possam ser assimiladas pelos mais pobres, pelos analfabetos, pelos que são massacrados por essa sociedade desigual. Somente dialogando com a maioria é que podemos construir o amálgama necessário para transformar essa trágica realidade.

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