Crítica: Saneamento Trágico (dir. Zazo)

Texto: Leo Pimentel. Revisão: Chico Torres.

MACEIÓ, o paraíso das águas

Um tsunami de esgoto e sujeira. Em Saneamento Trágico, Zazo escancara o lixo, o descaso, a negação dos direitos sociais no bairro tradicional da Lavada, mostrando o abandono do poder público que agride sistematicamente o meio ambiente.

Maceió, uma cidade conhecida mundialmente por suas belezas naturais, agoniza com a falta de investimentos em saneamento básico e preservação do meio ambiente. Menos de 50% da cidade está saneada. Mesmo os locais mais ricos, como a orla de Ponta Verde e Jatiúca (apenas como exemplo, porque as outras partes da orla de Maceió também sofrem do mesmo problema), despejam diariamente litros e litros de esgoto no mar. O que vemos são “línguas negras” fazendo seu caminho miserável para o mar, pelas galerias pluviais, onde apenas deveria levar as águas das chuvas. O problema é grave e aparentemente o poder público está longe de resolver. Citei esse exemplo por saber que é notório que esses bairros são os que recebem mais investimentos por serem o cartão postal da cidade e receberem os turistas. E, mesmo assim, as praias estão impregnadas de lixo de todos os tipos inimagináveis.

Na periferia a gravidade do problema é elevada ao triplo. As famílias convivem diariamente com a sujeira, o lixo e as doenças, No documentário, Zazo mostra vários depoimentos de pessoas que não aguentam mais essa situação. As imagens são impactantes. Tsunamis de esgoto e lixo cortando as ruas, entrando nas casas e nos estabelecimentos comerciais. Pessoas andando no meio da rua tomada por lixo e água podre. Crianças brincando, sem entender que aquilo ali não é algo que deva estar acontecendo, mas é a realidade que se convive todas as vezes que chove ou a maré sobe, fazendo com que as águas da lagoa Mundaú transbordem. A pura e clara degradação da sociedade.

A lagoa, fonte de sustento daquela comunidade, agoniza e pede socorro. Se nada for feito de forma planejada e séria, os peixes e o sururu vão acabar definitivamente. O documentário apresenta também os depoimentos de autoridades com as justificativas técnicas do que causou este problema durante anos e anos de falta de planejamento urbano. O emissário submarino, que deveria receber e tratar o esgoto da mísera quantidade de parte saneada da cidade, apenas joga no mar do jeito que recebe, sem tratamento nenhum. E as autoridades fazem o quê? Nada. E assim segue a vida!

Saneamento trágico tem muito valor crítico por abordar um tema grave, atual e que deve ser tratado como prioridade. Um filme que deve ser visto pela maior quantidade de pessoas possíveis, para que de alguma forma possamos cobrar de modo efetivo e definitivo uma solução para esses problemas. E que fique claro, que essa cobrança é nada mais que o direito de todo cidadão, que é ter dignamente e condições de viver com os seus direitos sociais garantidos. Até quando vamos fingir que nossa cidade é realmente o paraíso das águas?

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