Crítica: Subsidência (dir. Beatriz Vilela e Marcus José)

Texto: Kamylla Donato.

Subsidência, termo geológico para o afundamento gradativo da superfície da terra, é um curta-metragem produzido por Beatriz Vilela e Marcus José. A obra busca nos apresentar Irene, que após um longo dia de trabalho volta para casa, localizada no bairro do Mutange, cidade de Maceió-AL, onde as coisas seguiam em sua normalidade. Até que, na manhã seguinte, tudo que ela conhecia sumiu.

Ao ser acordada com o fecho de luz, Irene percebe que tudo que um dia a pertenceu, seus móveis, amigos e o teto que a protegia, havia desaparecido. Desesperada, ela corre, corre para descobrir o que esta acontecendo, para poder se salvar. O corpo em movimento não é só um corpo, é toda uma comunidade que clama por justiça e socorro. A degradação das residências, mostrada a partir de filmagens aéreas, somada à performance da atriz Gessyca Geysa, nos transporta para a dor e o sofrimento do Mutange.

Subsidência vai além de ser um curta-metragem experimental, ele é um retrato histórico da ausência do poder público e do privilégio das classes dominantes. Beatriz e Marcus transformaram o processo histórico maceioense em filme, retratam a dor de 2.632 habitantes, em cinema de denúncia e combate que em nenhum momento abriu mão da beleza e do experimentalismo.

O falar é silenciado pela dor: nos destroços vemos mensagens de vidas que foram arruinadas pela mineradora Brasken. Os bairros Mutange, Pinheiro e Bebedouro estão imergindo por conta da extração de sal-gema. Subsidência delata a dor das famílias atingidas, entretanto, desejo que não sejamos afetados pelo silêncio da personagem, mas sim, pela sua força e vontade de justiça.

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